Chefe da Marinha ucraniana detido pelas forças pró-russas

Kiev faz ultimato para que comandante seja libertado. Milícias pró-russas ocuparam pelo menos duas bases militares.

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O porto de Sebastopol acolhe a Frota do Mar Negro russa Viktor Drachev/AFP

A sede da Marinha ucraniana em Sebastopol foi ocupada por forças pró-russas esta quarta-feira e os soldados que se encontravam no seu interior foram obrigados a sair. O comandante da Marinha ucraniana, Sergei Haiduk, estava entre eles e foi levado por agentes dos serviços secretos russos do FSB, segundo a Interfax Ucrânia. O líder das milícias pró-russas confirmou que Haiduk foi "detido".

O Presidente interino, Oleksander Turchinov, deu "ao poder autoproclamado da Crimeia três horas [até às 21 horas locais, 19h em Portugal continental] para libertar todos os reféns", incluindo Haiduk, segundo um comunicado da presidência. As autoridades afirmam tomar as "medidas adequadas", caso o prazo não seja cumprindo, não adiantando, contudo, que medidas serão.

Segundo porta-vozes ucranianos, nenhum tiro foi disparado durante a tomada da base de Sebastopol. As milícias que ocuparam a base militar fazem parte das chamadas "forças de autodefesa", que têm cercado as bases militares na península e ocuparam os principais edifícios administrativos da Crimeia nas últimas semanas.

“Eles são uns 200, alguns têm passa-montanhas. Não estão armados e nós também não disparámos nenhum tiro. Os oficiais barricaram-se no interior do edifício”, disse à AFP Serei Bogdanov. Testemunhas citadas pela Reuters dizem que três bandeiras russas foram içadas à entrada da base.

Pouco depois da entrada dos pró-russos, alguns militares ucranianos começaram a sair da base, desarmados e vestidos à civil. Vários correspondentes na Crimeia relatam o abandono de soldados ucranianos da península. "Em Sebastopol vi oficiais da Marinha ucraniana a abandonar pacificamente a sua base tomada hoje pelos russos, humilhados", escreveu o editor diplomático da BBC, Mark Urban, na sua conta de Twitter.

O porto de Sebastopol acolhe a Frota do Mar Negro russa.

Já depois do incidente, o ministro interino da Defesa ucraniano, Ihor Teniuk, garantiu que as forças da Ucrânia não vão retirar-se da península do Mar Negro, mesmo depois da assinatura, por parte do Presidente Vladimir Putin, de um acordo que integra a Crimeia na Rússia.

Outra base militar em Novozerne, na parte ocidental da península, foi também alvo de um ataque pelas forças pró-russas. O porta-voz do Ministério ucraniano da Defesa, Vladislav Seleznev, disse que a entrada das instalações foi forçada por um tractor e que, de seguida, as milícias cessaram o seu avanço, perante os militares ucranianos armados.

O primeiro-ministro interino, Arseni Iatseniuk, anunciou entretanto ter enviado à Crimeia o ministro da Defesa e o vice-primeiro-ministro para "resolver a situação". No entanto, os dois ministros foram impedidos de entrar na península, segundo a Interfax Ucrânia.

Poucas horas antes, o primeiro-ministro da Crimeia, Sergei Aksionov, já tinha avisado que os responsáveis ucranianos não seriam autorizados a entrar. “Eles não são desejados na Crimeia. Ninguém os vai deixar entrar, serão enviados de volta”, afirmou Aksionov, citado pela agência de notícias russa Interfax.

Na véspera, um soldado ucraniano morreu em Sinferopol, a capital da península, durante a invasão de uma base militar pro milícias pró-russas. Em resposta, Kiev autorizou os soldados na Crimeia a usarem armas de fogo “para a sua autodefesa e para a protecção das suas vidas”. E Arseni Iatseniuk declarava que “o conflito passou da fase política à fase militar”.

Em Kiev, um grupo de três deputados do partido de extrema-direita Svoboda entraram na terça-feira nas instalações da televisão estatal ucraniana e obrigaram o director do canal, nomeado ainda por Ianukovich, a demitir-se, segundo imagens reveladas pelo site do jornal Ukrainska Pravda.

Iatseniuk condenou a acção dos membros do partido que apoiou a revolução que derrubou Ianukovich. "Estes não são os nossos métodos. O país, que se dirige para a União Europeia, deverá agir em respeito pelos princípios e os valores da comunidade europeia", afirmou através de um comunicado.

Também a representante para a liberdade de expressão da Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE), Dunja Mijatovic, criticou os actos dos deputados, que "vão contra tudo aquilo que são valores da liberdade de imprensa e não podem ser tolerados".

As críticas vieram até do próprio Svoboda, através do líder Oleg Tiagnibok. "Devemos compreender que nós já não fazemos parte da oposição, mas sim do poder. Dispomos de outras formas de luta, mesmo contra os traidores", afirmou.

O Svoboda foi um dos partidos mais activos durante a contestação a Ianukovich e alguns dos seus membros fazem parte do novo governo de transição.

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