Milícias cercam ministérios em Trípoli e reclamam queda do Governo líbio

“Estamos determinados a continuar o nosso movimento até à saída de Ali Zeidan”, disse um dos líderes dos homens armados.

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Manifestação de apoio à lei de exclusão política, no domingo MAHMUD TURKIA/AFP

Milícias armadas que reclamavam, e já conseguiram, a aprovação de uma lei de exclusão política de colaboradores do regime de Muammar Kadhafi, mantêm o cerco a dois ministérios em Trípoli e exigem agora a queda do Governo.

“Estamos determinados a continuar o nosso movimento até à saída de Ali Zeidan”, o primeiro-ministro, disse à AFP Oussama Kaabar, um dos líderes das milícias que tinham prometido retirar após a aprovação da controversa lei.

Um repórter da agência confirmou que homens armados e veículos com metralhadoras e canhões anti-aéreos mantinham, esta segunda-feira de manhã, o cerco aos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Justiça.

O Congresso Geral Nacional Líbio (CGN), o Parlamento do pais, aprovou no domingo, por 164 votos contra quatro, a controversa lei, sob pressão das milícias que cercam há dias os ministérios. O diploma terá ainda de ser ratificado pela comissão jurídica do Congresso.

“A aprovação da lei de exclusão política é um grande passo no caminho certo. Mas vamos examinar alguns aspectos da lei", disse Oussama Kaabar, membro da denominada Coordenação para a Exclusão Política e vice-presidente do Conselho Superior dos thowars (revolucionários) líbios.

O Governo anunciou há algumas semanas a intenção de fazer sair da capital as “milícias fora-da-lei”.

Lei quer afastamento de sindicalistas e outros dirigentes
A lei aprovada no domingo afastaria do cargo, por exemplo, o presidente do Congresso, Mohamed al-Megaryef, embaixador da Líbia na Índia, na década de 1980. Quatro ministros e um quinzena de deputados, entre os quais Jomaa Atiga, vice-presidente do CGN, podem também ter de abandonar os cargos que ocupam.

Um colaborador de Megaryef disse à agência que é cedo para falar do afastamento do presidente do Parlamento, dando a entender a possibilidade de aprovação de “emendas” ao texto aprovado.

Megaryef  não assistiu à votação.  Numa carta dirigida ao Parlamento explicou que o fazia para “não embaraçar os membros do Congreso, na medida em que era visado” pela lei.

Está previsto que o texto votado vigore por uma década. Além de antigos ministros e embaixadores, a lei determina o afastamento de responsáveis de meios de comunicação social e da segurança interna, dirigentes de sindicatos de estudantes e reitores de universidades.

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch chamou a atenção para a adopção precipitada de uma lei para satisfazer as milícias.

No início de Abril, o CGN aprovou, sob pressão dos defensores da exclusão de colaboradores de Kadhafi, uma alteração à Declaração Constitucional provisória, tornando impossível o recurso à justiça contra esta lei, antes mesmo de ela ter sido votada.

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