Milhares de espanhóis pedem na rua um referendo à monarquia

No próprio dia do anúncio da abdicação de Juan Carlos, dezenas e dezenas de cidades de Espanha foram palco de concentrações pela defesa da república.

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A Porta do Sol de Madrid encheu-se de manifestantes pró-república Pedro Armestre/AFP

Manifestações em Espanha não são algo raro e, nos últimos anos, tornaram-se habituais os protestos convocados por grupos de activistas de forma quase espontânea, através das redes sociais. Foi isso que aconteceu esta segunda-feira: horas depois do anúncio da abdicação do rei Juan Carlos, dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se em defesa da república e da realização de um referendo onde os espanhóis possam dizer se querem continuar a viver numa monarquia.

Em Madrid, segundo a polícia, citada pelo El País, ao final do dia estavam pelo menos 20 mil pessoas concentradas na Porta do Sol. Em Barcelona, na igualmente central e simbólica Praça da Catalunha, juntaram-se umas 5000 pessoas, entre bandeiras independentistas catalãs e bandeiras republicanas de Espanha.

Na Catalunha, que no final de 2012 pôr em marcha um processo que o governo regional quer ver terminado com um referendo sobre a independência – recusado como inconstitucional pelo Governo de Madrid e pelos maiores partidos nacionais –, a abdicação do rei, num contexto de crise das instituições, não pode ser dissociada das ambições independentistas que as sondagens mostram ser partilhadas por pouco mais de 50% dos catalães.

No centro da Praça da Catalunha, no chão, foi então deitada uma grande estelada, a bandeira independentista da região, ao lado de uma outra com a frase “Queremos votar 9N 2014”. Artur Mas, o presidente da Generalitat (governo regional), e os partidos com representação parlamentar pró-referendo anunciaram a realização da consulta para o dia 9 de Novembro deste ano. Entretanto, o Executivo conservador de Mariano Rajoy tem feito tudo para travar esse processo – em Abril, Partido Popular e socialistas chumbaram na Assembleia Nacional o pedido do parlamento catalão para avançar com a consulta.

O líder catalão lamentou então que no Congresso que os grandes partidos (PP e PSOE) se tenham “entrincheirado atrás de umas leis sem entenderem que se essas leis são usadas para negar a realidade não mudam a realidade, só fazem com que o problema ganhe raízes”. Depois, prometeu esgotar todas as vias legais para referendar a independência. A Assembleia Nacional Catalã, grupo da sociedade civil que organizou as grandes marchas pró-referendo dos últimos dois anos, já fixou até uma data, 23 de Abril de 2015, para a proclamação da independência.

Mas as manifestações espontâneas do final do dia e do início da noite em defesa da realização de um referendo sobre a monarquia não se limitaram às duas maiores cidades espanholas. Na Catalunha, aconteceram ainda em Tarragona, Girona ou Lleida. No País Basco, 2000 pessoas juntaram-se no centro de Bilbao, enquanto 3000 se manifestavam numa praça de Sevilha, na Andaluzia. Valência, Saragoça e Granada juntaram perto de 2000 manifestantes cada. Em Salamanca houve mais de mil na rua.

Em Palma de Maiorca, segundo os jornais espanhóis, os manifestantes também ultrapassaram os mil, enquanto que Badajoz, Cáceres e Mérida (Extremadura) foram cenário da concentração de várias centenas de pessoas.

As convocatórias, feitas e difundidas através das redes sociais, chegaram a dezenas de cidades europeias, incluindo Porto, Bruxelas, Paris ou Berlim, palco de protestos de dimensões naturalmente mais reduzidas.

À maior das manifestações, a da capital espanhola, juntaram-se cinco deputados do Esquerda Unida (IU), partido que pediu logo pela manhã a convocatória de um referendo, encabeçados pelo coordenador geral do partido, Cayo Lara.

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