Merkel recorda o dia em que o desejo de liberdade falou mais alto

Angela Merkel voltava a casa da sessão semanal de sauna, em Berlim Leste, quando o Muro começou a cair.

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"Foi uma noite inesquecível", recorda a chanceler alemã John MacDougall/AFP

“Foi um dia que nos mostrou que o anseio de liberdade não pode ser reprimido indefinidamente”. Assim se referiu a chanceler alemã Angela Merkel à queda do Muro de Berlim, cujo 25.º aniversário se assinala este domingo. Merkel, que falava em Berlim, neste sábado à noite, considerou um “milagre” que se tenha rompido a barreira da Guerra Fria sem que tenha sido disparado um único tiro.

Angela Merkel, que era uma cientista de 35 anos na antiga RDA quando o muro caiu, sublinhou que o país ficará sempre em dívida pela coragem dos habitantes da Alemanha do Leste que protestaram contra o regime comunista. “Durante o ano de 1989, mais e mais alemães do Leste perderam os seus receios contra a repressão do Estado e foram para as ruas. Nessa altura já não havia volta a dar. Foi graças à sua coragem que o muro se abriu”, disse Merkel. A chanceler inaugura este domingo uma exposição sobre o Muro de Berlim. São esperados pelo menos dois milhões de pessoas nas comemorações que vão decorrer neste domingo.

Chanceler desde 2005, Merkel manteve-se sempre reservada sobre a sua vida na Alemanha comunista e sobre a forma como presenciou a queda do muro. Porém, há alguns dias, a chefe do Governo alemão começou a falar abertamente do tema e daquilo a que chamou “uma noite verdadeiramente inesquecível”. Merkel disse à televisão alemã que recordava bem a tensão, o medo e a excitação no ar, nas semanas e dias que antecederam a queda do muro.

“Foi um milagre que tudo tenha acontecido de forma tão pacífica”, afirmou a chanceler, recordando que voltava a casa de uma ida à sauna quando viu pessoas a dirigirem-se para o lado ocidental e resolveu juntar-se-lhes. “Há semanas que se sentia a excitação no ar. Eu tive tanques estacionados na minha rua desde Outubro”, recordou. “Atravessei para o outro lado e festejei com completos estranhos. Havia um sentimento incrível de felicidade no ar”, disse ainda.

Este domingo, Merkel apresentou a queda do Muro como uma lição de que “é possível mudar as coisas a bem”. O acontecimento é um sinal de esperança para países como “a Ucrânia, a Síria, ou o Iraque”, onde “as liberdades são ameaçadas”, disse a chanceler. “A queda do Muro mostra-nos que os sonhos podem tornar-se realidade. Nada tem de ficar como está.”

A Reuters lembra que, num país com um século XX marcado por tamanha beligerância, em que tão poucos aniversários são motivos de comemoração, os alemães agarram-se com unhas e dentes às memórias da transição pacífica da Alemanha do Leste naquele 9 de Novembro de 1989. Neste sábado, a data foi assinalada com uma marcha de mais de 100 mil berlinenses (e muitos turistas) que percorreram os 15 quilómetros no centro da cidade ao longo dos quais se estendia o muro e onde agora mais de sete mil balões iluminados, presos em estacas de 3,6 metros, assinalam a altura e o percurso da estrutura que durante quase 30 anos impediu a livre circulação de pessoas no centro da capital alemã.

Os postes com os balões, que vão ser soltos neste domingo à noite, ao som do Hino da Alegria, evidenciam bem a forma como o muro serpenteava pelo coração da cidade, cortando-o a meio. No total, 136 pessoas foram mortas ao tentar atravessá-lo e muitas outras foram presas pelo mesmo motivo.

Papa pede mais pontes e menos muros

De Roma, o Papa Francisco assinalou o aniversário da queda do Muro de Berlim lembrando o papel do seu antecessor João Paulo II e apelando à construção de “pontes, não muros”.

Na praça de São Pedro, em Roma, o Papa disse que "esta queda chegou de surpresa, mas foi possível pelo longo e difícil empenho de pessoas que lutaram, rezaram e sofreram, algumas até chegaram a sacrificar a sua vida. Entre elas, o Papa santo João Paulo II teve um papel de primeiro plano", disse Francisco.

O Papa pediu ainda que “se desenvolva uma cultura de reencontro, que possa fazer cair todos os muros que ainda dividem o mundo, para que nunca mais haja inocentes perseguidos e por vezes até mortos pelas suas crenças ou a sua religião”, disse. “Temos necessidade de pontes, não de muros.”

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