Merkel reafirma apoio à Ucrânia enquanto procura equilíbrio com a Rússia

Chanceler alemã visita Kiev na véspera do Dia da Independência e diz que abertura do Presidente ucraniano para "uma descentralização" do Estado "é um bom sinal".

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Poroshenko recebeu Merkel com flores em Kiev Gleb Garanich/Reuters

O momento da visita de Angela Merkel a Kiev não podia ser mais simbólico, na véspera das comemorações do Dia da Independência da Ucrânia, mas o discurso da chanceler alemã virou-se para a próxima terça-feira, quando a atenção do mundo estiver focada num encontro entre os Presidentes Vladimir Putin e Petro Poroshenko.

À chegada a Kiev, numa curta declaração ao lado do Presidente ucraniano, Angela Merkel deixou claro o objectivo principal da sua visita, ao sublinhar que ela acontece "numa altura difícil, e está focada na unidade e integridade territorial da Ucrânia".

Com os Estados Unidos preocupados neste momento com o que se passa na Síria e no Norte do Iraque, onde os extremistas do Estado Islâmico ameaçam executar mais um jornalista norte-americano, a chanceler alemã assume cada vez mais o papel de ponta-de-lança da diplomacia ocidental na questão da guerra no Leste da Ucrânia e nas relações com a Rússia.

Mas, acima de tudo, é a maior proximidade entre Angela Merkel e Vladimir Putin – e entre as economias dos seus países – que a colocam na posição ideal para travar o conflito no Leste da Ucrânia, antes que este se torne ainda mais grave. E é nisso que a chanceler alemã aposta com a visita a Kiev antes da cimeira de terça-feira em Minsk, na Bielorrússia: deixar claro o apoio à Ucrânia, mas também perceber até onde Petro Poroshenko está disposto a fazer concessões.

Integridade territorial "essencial"
As palavras de Angela Merkel não deixaram margem para dúvidas sobre de quem é, na opinião dos EUA e da União Europeia, a responsabilidade pelo mais sério conflito com Moscovo desde o fim da Guerra Fria: "Com a minha visita, o Governo alemão quer mostrar que a integridade territorial da Ucrânia é essencial", afirmou a chanceler alemã, acrescentando que a anexação da Crimeia "não foi esquecida" e que "nada mudou" na posição europeia sobre essa questão.

Mas a reunião com Petro Poroshenko não serviu apenas para reforçar o apoio da Alemanha – e da União Europeia – à Ucrânia. Ainda antes da chegada de Angela Merkel a Kiev, já o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, tinha lançado o tema da federalização no Leste da Ucrânia como forma de pôr termo ao conflito armado que começou no início de Abril.

Numa entrevista ao jornal Welt am Sontag, o social-democrata e parceiro de coligação de Merkel no Governo alemão disse que a questão mais importante é parar a guerra entre o Exército ucraniano e os combatentes separatistas pró-russos, mas sublinhou que só poderá haver paz com um plano que vá "para além disso".

"Temos de desenvolver uma ideia sobre um processo de reconciliação que poderá ser introduzido depois do fim do conflito militar no Leste da Ucrânia. A integridade territorial da Ucrânia só pode ser mantida se for feita uma oferta às áreas de maioria russa", afirmou o também ministro da Economia da Alemanha.

Depois de um cessar-fogo – defendeu Sigmar Gabriel –, "um conceito hábil de federalização parece ser a única solução exequível".

No final da reunião com o Presidente ucraniano, a chanceler alemã não chegou a usar a palavra "federalização", mas mostrou-se agradada com "a abertura à descentralização na Ucrânia" por parte de Petro Poroshenko, que descreveu como "um bom sinal".

Merkel dirigiu-se quase sempre a ambos os lados do conflito, na esperança de que as conversações com a Rússia, marcadas para terça-feira, "sejam bem-sucedidas".

Promessa de 500 milhões de euros
A mensagem de apoio a Kiev foi clara – e traduziu-se até na promessa do envio de 500 milhões de euros para ajudar a reconstruir as províncias de Donetsk e Lugansk, as mais afectadas pela guerra. Mas os apelos foram dirigidos aos dois lados: "Não é possível alcançar-se a paz sozinho", afirmou.

A chanceler alemã falou também na urgência de a Ucrânia e a Rússia chegarem a acordo para que a fronteira entre os dois países possa ser monitorizada pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. "A paz não será possível enquanto a fronteira não tiver controlos mais eficazes", afirmou, numa referência à acusação da União Europeia, dos Estados Unidos e da NATO de que a Rússia envia material de guerra e combatentes para reforçar as fileiras dos separatistas pró-russos.

O Presidente ucraniano afirmou que o seu país "irá fazer tudo o que for possível para promover a paz", mas deixou claro que não aceitará nenhum plano desenhado "à custa da soberania, da integridade territorial e da independência da Ucrânia".

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