"A Europa é um espaço frágil que é preciso proteger"

Em Verdun, onde recordaram a mais longa batalha da I Guerra, Hollande e Merkel apelam à unidade europeia.

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François Hollande e Angela Merkel no cemitério alemão de Consenvoye Jean Christophe VERHAEGEN/AFP
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No centro da cidade de Verdun, com um homem vestido de soldado francês da Grande Guerra Thibault Camus/REUTERS
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Jovens chegaram a correr da floresta ao cemitério frente ao ossário de Douamont JEAN-CHRISTOPHE VERHAEGEN/AFP
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Hollande e Merkel depositaram uma coroa de flores no cemitério alemão de Consenvoye JEAN-CHRISTOPHE VERHAEGEN/AFP
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Merkel e Hollande junto à chama eterna no interior do ossário de Douamont CUGNOT MATHIEU/AFP

Na União Europeia é possível encontrar lugar para todos num espaço de paz, ainda que continuem a existir opiniões diferentes. Essa foi a mensagem que Angela Merkel e François Hollande quiseram fazer passar nas cerimónias comemorativas dos 100 anos da mais longa batalha da I Guerra Mundial, a de Verdun, no Nordeste de França, em que morreram 300 mil soldados franceses e outros tantos alemães.

“Aqui estamos lado a lado para enfrentar os desafios actuais. Antes de mais o futuro da Europa, porque, como sabemos, à desilusão seguiu-se o desencanto e, após as dúvidas veio a suspeita, e para alguns até a rejeição e a separação”, afirmou o Presidente francês, num discurso em que juntou referências às duas guerras que marcaram o século XX e fez um paralelismo com a actualidade: daqui a poucos dias, a 23 de Junho, os britânicos votam, em referendo, a sua permanência na União Europeia.

Os líderes das antigas nações inimigas discursaram junto ao Ossário de Douaumont, um gigantesco edifício em forma de espada enterrada até ao punho, em sinal de paz, onde estão os ossos de mais de 130 mil soldados de todas as nações beligerantes da I Guerra que não podem ser identificados, nem estão suficientemente completos para que lhes possa ser atribuída uma sepultura.

“Na União Europeia continuaremos a ter visões diferentes sobre alguns assuntos”, afirmou a chanceler alemã. “Isso é a natureza normal das coisas, mas pode ser benéfico, se provarmos que temos capacidade de ceder para alcançar compromissos”, disse a líder alemã.

"A Europa é um espaço frágil, que é preciso proteger", como que respondeu Hollande. "Não nos podemos esquecer, sobretudo aqui, que a História pode ser trágica e que é feita de grandes mudanças e acelarações que podem lançar um país, uma região, no caos - vemo-lo no Médio Oriente", acrescentou.

Transmitir a mensagem de uma memória partilhada é o que desejam fazer os líderes dos dois países que se enfrentaram na mais longa e lenta batalha da guerra de 1914-1918 (durou entre 21 de Fevereiro e 15 de Dezembro de 1916, dez meses, tendo combatido nela dois terços do exército francês, devido ao sistema de rotação rápida das tropas imposto pelos generais de Paris).

Angela Merkel foi a primeira chanceler alemã convidada a visitar o centro da cidade de Verdun. “O nome de Verdun é um símbolo da inconcebível atrocidade e do absurdo da guerra, mas também das lições que nos deu e para a reconciliação franco-alemã”, declarou a chanceler, recebida na Câmara Municipal, ao lado do Presidente francês. “Verdun é uma cidade que representa tanto o pior, onde a Europa se perdeu há 100 anos, como o melhor, onde a cidade foi capaz de se unir para a paz e a amizade franco-alemã”, disse Hollande.

Em 1984, o Presidente François Mitterrand e o chanceler Helmut Khol foram os primeiros a demonstrar a unidade franco-alemã nos memoriais de Verdun, dando literalmente as mãos – numa das fotos icónicas do século XX. Desta vez, Merkel foi mesmo convidada a entrar na cidade disputada no conflito.

O dia começou com Merkel e Hollande a partilharem o mesmo guarda-chuva, a depositarem flores no cemitério alemão de Consenvoye, onde mais de 11 mil estreitas cruzes negras se erguem do chão coberto de relva, num terreno arborizado, para assinalar a sepultura dos soldados alemães que morreram na batalha de Verdun. Por toda a região multiplicam-se os cemitérios de soldados franceses e alemães – e de outras nacionalidades.

O ponto alto das cerimónias foi à tarde, junto à necrópole de Douamont, quando Merkel e Hollande entraram no memorial, a culminar uma coreografia concebida pelo cineasta alemão Volker Schlöndorff. Quatro mil jovens saíram da floresta e dirigiram-se ao imenso cemitério frente ao ossário, ao som de tambores. “Com dignidade e lentamente, por estamos no coração de um cemitério”, descrevia um comunicado do Palácio do Eliseu.

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