Merkel: Alemanha nunca esquecerá os "horrores insondáveis" do Holocausto

Chanceler alemã participou nas cerimónias do 70.º aniversário da libertação do campo de concentração de Dachau.

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Merkel ao lado de Clément Quentin, um sobrevivente francês ANDREAS GEBERT/AFP

A chanceler alemã Angela Merkel e um grupo de sobreviventes do Holocausto juntaram-se este domingo em Dachau, no sul da Alemanha, para comemorar os 70 anos da libertação daquele campo nazi. Juntos, recordaram os “horrores insondáveis” do Holocausto.

Nos 12 meses de cerimónias relacionadas com o fim da barbárie nazi, esta foi a única vez que a líder alemã participou numa homenagem num campo de concentração. E também foi provavelmente uma das últimas ocasiões para um encontro entre a representante do governo alemão e aqueles que ainda guardam a memória do horror do Holocausto. A maioria dos sobreviventes, e eles são cada vez menos, têm já uma idade avançada e cada cerimónia como esta é sempre vivida emotivamente como se fosse a última.

Merkel foi recebida em Dachau pelo presidente do Conselho Central dos Judeus da Alemanha, Josef Schuster. Junto ao forno crematório deste campo situado a 17 quilómetros de Munique, o primeiro a ser criado pelo regime nazi, em 1933, e ao lado de Clément Quentin, um sobrevivente francês agora com 94 anos, a chanceler depositou uma coroa de flores no local.

“Aos mortos!”, lançou um dos responsáveis do Comité Internacional de Dachau, que junta os sobreviventes, muitos deles franceses, antes de toda a comitiva se recolher num profundo silêncio e iniciar um percurso em direcção à Praça da Chamada onde os prisioneiros sujeitos a trabalhos forçados eram contados todos os dias.

Josef Schuster convidou os presentes a guardarem intacta a memória da Shoah. Com o tempo, e com a morte dos que sobreviverem ao Holocausto, “a distância aumenta, a empatia diminui” disse, insistindo com os mais jovens “na responsabilidade que têm” de não esquecer o que sucedeu nos campos.

E o que aconteceu em Dachau e em todos os outros campos foram, nas palavras de Angela Merkel, “horrores insondáveis”. Horrores que “nos obrigam a nunca esquecer. Não, nós nunca vamos esquecer. Não esqueceremos pelas vítimas, não esquecermos por nós próprios e pelas gerações futuras”, disse a chanceler num discurso emocionado.

Merkel lamentou que o anti-semitismo esteja a aumentar na Alemanha e que as instituições judaicas precisem de protecção policial permanente no seu país. Mas “estes campos mantêm as nossas memórias vivas apesar das adversidades actuais”, garantiu. "Temos o dever de nunca mais fechar os olhos e os ouvidos face aos que insultam, ameaçam ou agridem aqueles que dizem ser judeus ou defendem Israel."

Zelar para que "nunca mais"
Aberto inicialmente para internar os prisioneiros políticos, Dachau serviu de modelo de organização para os outros campos da morte, de Treblinka a Buchenwald.

No dia 29 de Abril de 1945 foi libertado pelos soldados americanos que descobriram então o indizível horror da solução final. As imagens de arquivo mostram as valas comuns com os corpos cadavéricos dos mortos amontoados em desordem, e os sobreviventes também eles cadavéricos, como se fossem fantasmas

No sábado, Merkel já tinha insistido na “responsabilidade particular” da Alemanha, 70 anos depois do fim do Holocausto, que se saldou com o extermínio de seis milhões de judeus naquela que foi a maior tentativa de eliminação de um povo da face da terra.

Mas o “nunca mais” professado pela Alemanha depois de 1945 significa hoje “zelar para que os nossos ideais e os nossos valores sejam realmente respeitados”, disse Merkel, que foi a primeira chefe do governo alemão a visitar Dachau, em Agosto de 2013.

Foi a este campo que, durante a guerra, chegaram 206 mil prisioneiros vindos de dezenas de países. Entre eles, Léon Blum, antigo primeiro-ministro francês que era judeu. Mais de 41 mil foram mortos pelos nazis ou morreram de fadiga, fome, frio ou doença.

As cerimónias internacionais do 70.º aniversário da libertação dos campos começaram no dia 27 de Janeiro em Auschwitz, o campo construído na Polónia ocupada pelos nazis.

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