Membro da Liga do Norte afastada após apelo à violação de ministra italiana

Esta não é a primeira vez que a ministra da Integração é alvo de comentários violentos desde que se tornou a primeira mulher negra a integrar um governo italiano.

Mensagem de Valandro no Facebook divulgada pelos media italianos
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Mensagem de Valandro no Facebook divulgada pelos media italianos DR
Kyenge com a equipa que forma o governo de Letta
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Kyenge com a equipa que forma o governo de Letta VINCENZO PINTO/AFP
Cecile Kyenge, uma médica oftalmologista natural da República Democrática do Congo
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Kyenge é a primeira mulher negra a integrar um governo italiano Tony Gentile/Reuters

Uma conselheira municipal da Liga Norte em Pádua, Norte de Itália, foi afastada do cargo pelo conselho nacional do partido de direita depois de ter publicado no Facebook uma mensagem de indignação sobre a tentativa de violação por um homem africano de duas raparigas. Numa mensagem escrita em letras maiúsculas, Dolores Valandro apela à violação da ministra da Integração italiana.

“Mas não há nada que a viole, ao menos para que possa entender o que sente a vítima de um crime infame? Que vergonha!” No comentário, Valandro não escreve o nome da ministra, mas a foto que acompanha um artigo do site Todos os Crimes de Imigrantes sobre a tentativa de violação e que a membro da Liga Norte replica no Facebook é de Cecile Kyenge, uma italiana de origem congolesa, de 49 anos, que se tornou a primeira mulher negra a integrar um governo em Itália.

O comentário foi notícia imediata no país e suscitou a indignação da classe política. A Valandro custou a expulsão da Liga Norte, que já esclareceu não estar associada à posição assumida pelo seu membro. O líder dos senadores da Liga Norte, Massimo Bitonci, lamentou a “frase violenta, estúpida e inoportuna” de Valandro, assegurando que seriam “tomadas de imediato medidas disciplinares” e que seria exigido a Valandro que retirasse o seu comentário da rede social e "pedisse desculpas”.

A estas críticas juntam-se as de Flavio Tosi, presidente da câmara de Verona e secretário regional da Liga Norte, que considerou a frase “inqualificável” e anunciou que a expulsão de Valandro ficará concluída esta sexta-feira.

Depois de ver o seu comentário tornar-se viral nas redes sociais e fortemente criticado pelo seu partido, Dolores Valandro fez um pedido de desculpas durante uma entrevista à Rádio Capital italiana, afirmando que tudo não passou de “uma piada num momento de raiva”. “Peço desculpas. Não pensei num momento de raiva. Foi a minha maneira de desabafar. Na realidade sou mais doce do que um doce”, disse a italiana.

Kyenge ameaçada pelo racismo
Esta não é a primeira vez que a ministra da Integração é alvo de comentários violentos em Itália, nem mesmo por parte da Liga Norte. Dias depois de ter sido uma das sete mulheres escolhidas para integrar o novo executivo italiano do primeiro-ministro Enrico Letta, Kyenge era já motivo de comentários por parte do partido xenófobo que integrou a coligação governamental de Silvio Berlusconi.

Mario Borghezio, eurodeputado da Liga Norte, referiu-se à coligação de Enrico Letta como o “governo bonga-bonga” e a Kyenge como alguém que parece ser “uma boa dona de casa mas não uma ministra”.

Kyenge, uma médica oftalmologista da República Democrática do Congo que chegou a Itália aos 18 anos, tem assumido posições sobre a integração dos imigrantes e o reforço dos seus direitos enquanto deputada do Partido Democrata e agora como ministra que a colocam na linha de fogo da extrema-direita italiana. Termos como “zulu”, “negra anti-italiana” ou “macaca congolesa” têm surgido em sites e blogues em Itália. A ministra tem dado apenas uma resposta a estes comentários: “Não sou de cor, sou negra e digo-o com orgulho.”

Esta sexta-feira, numa reacção ao comentário de Dolores Valandro, defendeu que não é só ela que se deve mostrar ofendida. “Todos devem sentir-se ofendidos com essas declarações”, sustentou na sua conta no Twitter. A ministra acrescentou que este tipo de comentário “tenta incitar à violência junto do público” e é “um insulto a todos os italianos”.

O primeiro-ministro italiano já veio manifestar o apoio à ministra da Integração. “Cada um de nós deve sentir-se ofendido. Em sinto-me ofendido. Cecile merece a minha solidariedade pessoal, bem como a do Governo e a do país”, afirmou Letta num comunicado divulgado esta sexta-feira citado pelas agências AFP e Reuters.  

A presidente da Câmara dos Deputados italiana, Laura Boldrini, também ela alvo de insultos sexistas desde que assumiu o cargo, lamentou o sucedido. “As palavras da conselheira da Liga Dolores Valandro são inaceitáveis e cheias de racismo e ódio. O que é pior é que é uma mulher, com um papel na política, a sugerir a violação como punição."
 
 

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