Líder das Pussy Riot não espera ser libertada antes de cumprir toda a pena

Nadejda Tolokonnikova deu a sua primeira entrevista a um meio de comunicação social ocidental desde que foi presa.

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Nadejda Tolokonnikova, Maria Alekhina e Ekaterina Samutsevitch numa audição do tribunal em Moscovo, em Agosto de 2012 Serguei Karpukhin/Reuters

Um membro da banda punk Pussy Riot deu a sua primeira entrevista a um meio de comunicação social ocidental, o Guardian desde que foi presa há oito meses, na Rússia. A conversa foi pelo telefone e Nadejda Tolokonnikova, 23 anos, falou a partir da colónia prisional em Mordovia, no centro do país. Tolokonnikova está na colónia penal para mulheres desde Outubro, a cumprir o que resta da pena de prisão de dois anos.

Em Agosto de 2012, Nadejda Tolokonnikova, Ekaterina Samutsevitch e Maria Alekhina foram condenadas a dois anos de prisão, depois de terem sido consideradas culpadas de “hooliganismo" e “incitamento ao ódio religioso” por terem cantado, em Fevereiro, uma “oração punk” na Catedral do Cristo Salvador, em Moscovo, na qual criticavam a Igreja Ortodoxa russa e Vladimir Putin, nas vésperas das eleições presidenciais de Março, das quais Putin saiu o vencedor.

Do grupo, Samutsevich foi entretanto libertada em Outubro. Numa chamada telefónica vigiada por funcionários da prisão que interromperam, várias vezes, a conversa com o objectivo de impedir que Tolokonnikova abordasse questões políticas, a fundadora da banda disse que não tinha qualquer expectativa de ser libertada mais cedo pelo Governo de Putin.

Um tribunal em Mordovia agendou para o próximo dia 26 uma audiência para analisar um pedido de liberdade condicional para Tolokonnikova. Embora a entrevista tenha decorrido um dia depois de a audiência ter sido definida, a líder da banda disse não ter visto as notícias. “Para mim a audiência não significa nada”, confessou. “No nosso caso, o Governo quer que admitamos a nossa culpa, o que obviamente não faremos.”

Tolokonnikova passa os dias a coser uniformes para oficiais russos, na fábrica da colónia prisional. No pouco tempo livre que tem dedica-se à leitura de livros e de cartas que recebe dos seus apoiantes. “Tento usar o meu tempo de forma construtiva, produtiva e criativa. Estou a aprender a relacionar-me com tudo isto e penso que estou a consegui-lo. Se o nosso humor está em baixo, o tempo passa muito devagar. Se aprendermos a viver prestando atenção à vida e valorizando-a, mesmo estando aqui, o tempo não é perdido.” A informação do mundo exterior chega-lhe a partir dos jornais e revistas trazidos por familiares, durante as visitas.

Questionada sobre a vida que terá depois da sua libertação, Tolokonnikova responde: “A minha vida não vai mudar, mas haverá novos elementos-chave devido à experiência que reuni aqui. Os vectores da política e da arte continuarão a ser os mesmos.”

O próximo julgamento político a agitar a Rússia vai ser o do activista Alexei Navalny, cujo início está marcado para dia 17, em Kirov. Navalny foi acusado de desvios de dinheiro num caso que o próprio acredita tratar-se de uma tentativa de o silenciar. Antes de ser interrompida por um funcionário prisional Tolokonnikova disse: “Espero que não tenham o descaramento de o prender porque ele ainda é uma figura mais mediática para as pessoas do que os membros da Pussy Riot, pelo menos na Rússia." E concluiu: “Estou muito feliz por ele existir, especialmente porque é alguém disposto a usar todo o seu tempo e energia para mudar a situação política na Rússia."
 
 

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