Capitão do ferry que naufragou na Coreia do Sul investigado por crime de negligência

Perdeu-se tempo precioso sem evacuar a embarcação acidentada, dizem especialistas em segurança marítima.

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O capitão do ferry, Lee Joon-Seok, ao ser detido pela polícia Yonhap/REUTERS
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Socorristas tentam entrar no ferry AFP
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Helicópteros junto ao barco afundado AFP
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179 pessoas já foram resgatadas AFP
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As ondas e o vento dificultaram o trabalho dos mergulhadores AFP
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O familiar de um dos passageiros AFP
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“Não saiam dos vossos lugares”, ordenou a tripulação do ferry Sewol, que naufragou a cerca de 20 quilómetros da costa sul-coreana na quarta-feira. Das 475 pessoas que seguiam a bordo, 325 são adolescentes, alunos de um escola secundária nos subúrbios de Seul e 282 continuam desaparecidos. Terão ficado presos nos seus lugares.

O capitão do ferry de 6825 toneladas, Lee Joon-seok, de 69 anos, está a ser alvo de uma investigação que o pode levar a responder pelo crime de negligência, devido a relatos dos passageiros dizendo que foi dos primeiros a abandonar o navio, diz a Reuters.

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A evacuação foi mal gerida, afirmou Bae Min-Hoon, director da Associação para a Segurança Marítima, citado pela AFP. “A primeira hora, que é tão essencial, foi desperdiçada, pedindo aos passageiros para que ficassem sentados no seu lugar”, afirmou.

Ainda não se conhecem as causas do acidente em que há apenas 14 mortes confirmadas. Mas vários dos sobreviventes descrevem um barulho forte que indicaria que o navio, com vários andares, chocou contra alguma coisa.

A televisão estatal YTN citou fontes oficiais da investigação do acidente dizendo que o navio estava fora da sua rota habitual e tinha sido atingido por ventos fortes que fizeram com que se soltassem os contentores que estavam armazenados no convés.

Os resgatados dizem ainda que a tripulação lhes ordenou que se mantivessem nos seus lugares depois do choque. Habituados à rígida disciplina escolar e ao respeito pela autoridade, os estudantes obedeceram à ordem. “Se ao menos nos tivessem dito para sair mais cedo, mais pessoas poderiam ter saltado para água”, onde havia barcos de pesca que salvaram passageiros, contou uma adolescente à televisão MBC, citada pela AFP. “Mas a maior parte das pessoas não se mexeu, como lhes ordenaram.”

Segundo outro sobrevivente, Huh Young-ki, a mensagem era repetida com intervalos regulares. “Nós interrogávamo-nos: ‘Será que devemos ficar quietos? Será que não devemos tentar sair?’ Mas os anúncios diziam que a ajuda ia chegar”, contou à televisão coreana News Y.

 “Esperámos 30 a 40 minutos”, conta um dos estudantes. “E depois [o ferry] voltou-se, toda a gente começou a gritar e a tentar desesperadamente sair dali.”

O ferry seguia para a ilha de Jeju, que fica a cerca de 100 quilómetros da costa e onde existem várias atracções turísticas. Por isso é um destino habitual de visitas de estudo – a bordo do Sewol seguiram várias turmas com 15 professores, a caminho de uma dessas visitas.

Os socorristas lutavam esta quinta-feira contra ventos crescentes e ondas enquanto continuavam as buscas para encontrar 282 pessoas, na esperança de que ainda haja sobreviventes em algumas bolhas de ar, sob a quilha voltada do navio. As equipas envolvidas nas buscas continuaram a trabalhar durante a noite com a ajuda de projectores, mas as fortes correntes e uma visibilidade reduzida têm impedido os esforços dos mergulhadores para entrarem no barco, onde se pensa que a maioria dos passageiros tenha ficado encurralada.

A Presidente da Coreia do Sul, Park Geun-Hye, esteve esta quinta-feira com os pais dos estudantes na ilha de Jindo, onde estão concentradas as acções de busca e salvamento, num encontro tenso e cheio de angústia. “Mas o que é que está aqui a fazer enquanto há pessoas a morrer! O tempo esgota-se !”, lançou-lhe uma mulher, quando a governante tentou falar. 

Centenas de ferrys ligam a costa sul-coreana e as ilhas do país todos os dias e os acidentes são raros – a confirmarem-se os piores receios, este será o pior acidente marítimo dos últimos 20 anos. Em 1993, um ferry com demasiada gente e carga a bordo afundou-se na costa Sudeste da Coreia do Sul: das 352 pessoas a bordo morreram 292.

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