Martin Schulz optimista após encontro com Tsipras

“Raramente senti durante o meu mandato que tive uma discussão tão construtiva e aberta”, disse o presidente do Parlamento Europeu. Juncker foi muito menos conciliatório.

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Martin Schulz e Alexis Tsipras entenderam-se em Atenas Marko Djurica/Reuters
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Jean-Claude Juncker, numa entrevista, optou pelo tom duro John Thys/AFP

Martin Schulz, o primeiro líder de uma instituição europeia a ser recebido em Atenas desde a mudança de Governo, gostou do que ouviu e saiu optimista do encontro que, esta quinta-feira, teve com o novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.

“Raramente senti durante o meu mandato que tive uma discussão tão construtiva e aberta”, disse, citado pelo diário grego Kathimerini. “Há a impressão na União Europeia de que o novo Governo grego vai tentar seguir um caminho à parte”, mas “descobri hoje que não é o caso”, afirmou, após o encontro.

A Grécia procura “soluções numa base comum” com os parceiros europeus, disse também, citado pela AFP, depois de um encontro que se prolongou por duas horas e que Martin Schulz descreveu como “sincero”, “construtivo”, “substancial” e também “fatigante”.

“Estamos de acordo sobre muitos assuntos, mas há coisas que é preciso ainda discutir”, disse também o socialista que preside ao Parlamento Europeu desde 2012. Schulz manifestou agrado com o facto de o combate à evasão fiscal e “a injustiça social que está ligada à evasão fiscal” serem prioridades do executivo de Tsipras. “É um bom passo em frente e espero que amanhã, com o patrão da zona euro, Jeroen Dijsselbloem, haja passos concretos”, disse ainda. Dijsselbloem visita esta sexta-feira Atenas.

Com um tom bem diferente, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse, numa entrevista ao jornal francês Le Figaro, que eliminar a dívida grega “está fora de questão” e é uma solução que não seria aceite pelos outros países do euro. “São possíveis arranjos, mas eles não alterarão o essencial do que está em vigor”, disse.

“Tsipras diz que a Grécia não aceitará a austeridade. Os países do euro respondem que não haverá mais créditos se a Grécia não respeitar os compromissos”, acrescentou. “Respeitamos o sufrágio universal na Grécia, mas a Grécia deve também respeitar os outros.”

O vice-chanceler e ministro da Economia alemão, o social-democrata Sigmar Gabriel, disse quase o mesmo que Juncker. “Os cidadãos europeus têm o direito de esperar que as mudanças na política grega não se façam  à sua custa, e é disso que se trata”, afirmou no Parlamento, reforçando uma posição já expressa na véspera.

As declarações surgem depois das primeiras medidas antiausteridade anunciadas pelo novo Governo grego, incluindo o aumento do salário mínimo, o alargamento dos cuidados de saúde a desempregados que não tenham seguro e o fim da mobilidade na função pública.

"Construir confiança"
Falando após o encontro com Martin Schulz, o primeiro-ministro grego disse que o seu Governo está a procurar “construir uma nova relação de confiança” com a Europa. Tsipras repetiu a mensagem que deixou na quarta-feira, no seu primeiro Conselho de Ministros, e declarou que pretende uma solução “mutuamente benéfica” para o problema da dívida grega, o que “exige tempo”. A Grécia, afirmou também o chefe do Governo, está a trabalhar para o “regresso ao crescimento” e “a Europa vai ultrapassar a crise e sairá mais forte”, com “mais solidariedade e confiança recíproca”.

A procura de uma “nova relação” com a Europa vai levar na segunda e terça-feira a Londres, Paris e Roma o seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, para contactos com os seus homólogos. O francês Michel Sapin já anunciou qual é posição do seu Governo: “Discutir a dívida, sim, para aliviar a carga, anular a dívida, não, porque isso seria transferir o peso dos contribuintes gregos para contribuintes franceses” .

A França inclina-se, segundo informações da Reuters, para um cenário de concessão de mais tempo à Grécia para pagamento da dívida, desde que Atenas mantenha o orçamento equilibrado e compromissos de reformas.
 

   

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