Ao contratar o jogador Mario Balotelli para o seu clube AC Milan, Silvio Berlusconi, que é um grande mestre do marketing político, usa um joker para continuar a sua espectacular subida nas sondagens sobre as legislativas que têm lugar nos dias 24 e 25 de Fevereiro.

A transferência de Balotelli do Manchester City para uma das equipas da capital da Lombardia, região crucial onde a direita e a esquerda estão par a par nas sondagens, suscitou o entusiasmo dos adeptos do clube.

Ao chegar a Milão (no Norte) para exames médicos, o jogador ítalo-ganês de 22 anos foi assaltado por fãs em júbilo, e por uma imensa massa de fotógrafos e operadores de câmara. Balotelli deverá jogar no derby com o clube inimigo, o Inter, no dia 24 de Fevereiro, que coincide mesmo em cheio com o primeiro dia do escrutínio nacional.

Berlusconi negou ter agido por estratégia eleitoral, mas, ainda assim, foi dizendo ao canal de televisão Rai Tre: "Balotelli deu dois à Alemanha [na semifinal do Euro 2012] e fez chorar os alemães. O outro Mario [Monti, candidato do centro] deu o Imu [o imposto sobre a habitação] e fez chorar os italianos".

Monti sucedeu a Berlusconi na chefia do Governo italiano em Novembro de 2011, ficando à frente de um governo técnico perante um "Cavaliere" ferido pelos seus próprios escândalos e pela crise do euro, e em luta com as chefias do centro-direita.

"Há uma grande número de fãs do AC Milan, que nunca foram quantificados, que podem ficar reconhecidos por Berlusconi ter feito esta aquisição", explicou o reputado analista de sondagens Renato Manheime ao jornal Corriere della Sera, sublinhando que "o futebol é uma verdadeira paixão para os italianos".

Segundo os analistas políticos citados por este diário, a chegada de Balotelli, que Berlusconi classificara recentemente como "uma maçã podre nos balneários", pode fazer-lhe ganhar 400 mil votos. Roberto Weber, do instituto de sondagens SWG, disse que a contratação pode valer 0,3% pontos percentuais a Berlusconi. Num tom irónico, Berlusconi, que testa as suas ideias frequentemente através de sondagens, disse já ter pensado em colocar o jovem jogador nas suas listas eleitorais.

O magnata dos media salvou o AC Milan, que, em 1986, se desmoronava como clube, e nunca hesitou em usar o futebol para fins políticos. Na sua primeira campanha eleitoral, em 1994, o nome do seu partido, Força Itália (agora é o Povo e Liberdade), era um slogan cantado nos estádios.

Para Giuseppe Berta, professor de História da Economia na Universidade de Bocconi, em Milão, Berlusconi tem usado ao máximo o futebol para construir a sua imagem política e dar-se ar de "coronel das tropas", à maneira dos caudilhos sul-americanos. "Sendo um homem que vem do marketing, ele compreendeu rapidamente que o desporto, a televisão e o marketing de massas pode ser um cocktail explosivo que também ajuda a obter vitórias políticas", escreveu Berta no site de informação financeira firstonline.info.

Para este historiador, "a escolha de Balotelli não é uma coincidência, uma vez que representa o estereótipo do milagre italiano a que Berlusconi tanto se refere". O jovem jogador é filho de imigrantes do Gana que chegaram à Sicília e o abandonaram. Foi então adoptado por uma família italiana. Cresceu em Brescia, perto de Milão, e tornou-se italiano aos 18 anos.

E se não é certo que esta operação venha a beneficiar Berlusconi, o seu partido, que caíra nas sondagens para o nível do limbo em Novembro do ano passado, vai-se reerguendo (mais 20%) graças à campanha enérgica do seu líder. A coligação de centro-direita tem hoje 27% das intenções de votos; o centro-esquerda está com 34%, segundo o instituto Demopolis.

Apesar de nem todos cederem ao apelo do "Cavaliere", um adepto do AC Milan comentou, sarcástico: "Votem todos em Silvio. Com ele há pão e jogos".