Iulia Timoshenko faz greve de fome para a Ucrânia assinar acordo com UE

Continuam protestos contra decisão de não assinar acordo de associação com União Europeia na Cimeira de Vílnius, esta semana

Os manifestantes concentraram-se em frente ao edifício sede do Governo
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Os manifestantes concentraram-se em frente ao edifício-sede do Governo SERGEI SUPINSKY/AFP
Bandeiras da União Europeia eram comuns entre os manifestantes
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Bandeiras da União Europeia eram comuns entre os manifestantes SERGEI SUPINSKY(/AFP

A líder da oposição ucraniana presa, Iulia Timochenko, anunciou esta segunda-feira que entrou em greve de fome para protestar contra a rejeição pelo Governo do acordo de associação comercial com a União Europeia, em detrimento da entrada na união aduaneira com a Rússia. Enquanto isso, continuaram as manifestações pró-europeias, tanto na capital, Kiev, como noutras cidades ucranianas, por vezes com confrontos com a polícia.

"Inicio uma greve de fome ilimitada para exigir ao Presidente Viktor Ianoukovitch que assine o acordo de associação com a União Europeia", afirmou Timoshenko, numa mensagem divulgada pelo seu advogado, perante cerca de mil manifestantes no centro de Kiev. A libertação da ex-primeira-ministra era uma das condições colocadas por Bruxelas para a adesão da Ucrânia a este acordo, que deverá ser assinado na Cimeira da Parceria Oriental, que decorre em Vílnius, a 28 e 29 de Novembro. Geórgia e Moldávia, outras ex-repúblicas soviéticas, vão assiná-lo.

No domingo, cerca de 100 mil manifestantes – segundo a organização – ou 50 mil, segundo a polícia, saíram à rua em Kiev para exigir que a Ucrânia assine este acordo com a UE, no que foi a maior manifestação desde a Revolução Laranja, em 2004, que contrariou a tradicional influência russa neste país. Nesta segunda-feira, os manifestantes pró-União Europeia voltaram a envolver-se em confrontos com a polícia ucraniana em Kiev, quando algumas pessoas tentaram entrar no edifício do Governo e foram repelidos com gás lacrimogénio e golpes de casse-tête.

A manifestação em Kiev foi bem mais pequena do que no domingo. Mas continua a haver tendas montadas na Praça Europeia no centro de Kiev – evocando o que se passou na Revolução Laranja de 2004, quando o actual Presidente, Viktor Ianukovitch, embora eleito, foi afastado do poder, por se considerar que houve fraude eleitoral, que favorecia a tradicional influência russa na política ucraniana. Desta vez, protestam porque o Governo cedeu às pressões de Moscovo para se juntar à união aduaneira com a Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas.

Mas as manifestações pró-União Europeia não se limitaram hoje a Kiev. Em Lviev, no Ocidente da Ucrânia, houve também uma manifestação, que reuniu cerca de 15 mil pessoas, e 12 mil na cidade vizinha de Ivano-Frankivsk, noticia a AFP.

O Presidente Ianoukovitch tentou acalmar os ânimos, prometendo que o país tentará alcançar os padrões europeus, mesmo sem o acordo com a UE. "Hoje tenho de sublinhar isto: não há alternativa à criação de uma sociedade com padrões europeus na Ucrânia e as minhas políticas sempre foram coerentes neste sentido, e continuarão a sê-lo", garantiu.

Oposição pede demissão

A manifestação desta manhã contou com a presença de um dos líderes mais destacados da oposição – Viltali Klitschko, ex-campeão de pesos pesados de boxe. Chamou à decisão do Governo, anunciada na quinta-feira passada, “uma vergonha”, e prometeu continuar os protestos no centro de Kiev. “Vamos continuar a manifestar-nos até que o acordo seja assinado”, garantiu, citado pela AFP. “Vamos exigir a anulação da decisão do Governo e exigir a sua demissão.”

Outros líderes oposicionistas, como Arseni Iatseniuk e Okeh Tiahnibok, discursaram para a multidão, relata a BBC. Pediram também ao Presidente Ianukovitch que demita o primeiro-ministro, Mikola Azarov, e assine o acordo de associação com a União Europeia na Cimeira da Parceria Oriental, que decorre em Vílnius, a 28 e 29 de Novembro.

A União Europeia continua de porta aberta para a Ucrânia, garantiram ainda esta segunda-feira os presidentes do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, Durão Barroso, num comunicado conjunto. “A oferta de assinar um acordo de associação e de uma área de livre comércio sem precedentes ainda está sobre a mesa. Cabe à Ucrânia decidir livremente que tipo de compromisso deseja manter com a União Europeia”, afirma. Sublinham “desaprovar a posição e acções da Rússia a este respeito” e alertam Kiev de que “considerações de curto prazo não devem ofuscar os benefícios de longo prazo que poderiam trazer essa parceria”.

É sempre a economia

O primeiro-ministro ucraniano, Mikola Azarov, ao anunciar a desistência do acordo com a UE – que será assinado pela Geórgia e a Moldávia –, explicou que o fazia “por motivos puramente económicos”. A Ucrânia está numa situação económica difícil, numa recessão que se prolonga há cinco trimestres e um défice orçamental que poderá ultrapassar 8% este ano. As grandes agências de notação deram-lhe recentemente uma nota comparável à da Grécia, alarmadas com o nível das reservas de divisas estrangeiras, que não dão para mais do que três meses de importações. O Fundo Monetário Internacional recusa conceder ajuda ao país se não forem postas em práticas medidas impopulares, como o aumento do preço do gás.

É neste cenário que entra a pressão da Rússia, o país do qual a Ucrânia depende para se abastecer de gás, embora saiba que a Gazprom, a empresa estatal russa, lhe vende gás mais caro do que a outros países. Moscovo ameaça frequentemente fechar a torneira dos gasodutos por causa das dívidas de Kiev – um argumento sério para que a Ucrânia não saia da sua órbita de influência.

Além disso, um quarto das exportações da Ucrânia destinam-se à Rússia, e durante este ano Moscovo fez sentir de várias formas como poderia criar problemas ao seu vizinho se as alfândegas se fechassem. Durante o Verão, proibiu a entrada em território russo dos populares chocolates ucranianos Roshen, por exemplo, alegando falta de qualidade. Desde o início do ano, as exportações para a Rússia diminuíram em um quarto – e o primeiro-ministro disse claramente que remediar esta situação é a prioridade do seu Governo.
 
 

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