Mais de 100 mil contra Morsi na Praça Tahrir

Mais de 100 mil pessoas concentram-se na Praça Tahrir para exigir revogação do decreto que concede plenos poderes ao Presidente do Egipto.

Manifestantes fogem da polícia nas imediações da Praça Tahrir, no Cairo
Fotogaleria
Manifestantes fogem da polícia nas imediações da Praça Tahrir, no Cairo Gianluigi Guercia/AFP
Fotogaleria
As cores do Egipto, tal como nos dias da revolução contra Mubarak Gianluigi Guercia/AFP
Fotogaleria
Muitos cristãos coptas participaram no protestos Gianluigi Guercia/AFP
Fotogaleria
A praça Tahrir está a ficar cheia ao princípio da noite Gianluigi Guercia/AFP
Fotogaleria
Jovens no protesto da Tahrir Gianluigi Guercia/AFP
Fotogaleria
De manhã registaram-se confrontos com a polícia Gianluigi Guercia/AFP

Um grande comício contra o Presidente do Egipto, Mohamed Morsi, convocado para a Praça Tahrir, reuniu mais de 100 mil pessoas - um número equivalente às grandes manifestações que levaram ao derrube de Hosni Mubarak. As palavras de ordem que se ouvem, aliás, são as mesmas que se usaram contra o ditador deposto no ano passado.

“O povo quer que o regime caia” e “vai-te embora!” foram slogans gritados e pintados em faixas e cartazes empunhados pelos manifestantes que percorreram várias cidades egípcias, mas sobretudo as ruas do Cairo em direcção à praça símbolo da revolução egípcia, por vezes envolvendo-se em confrontos com a polícia — pedras de um lado, nuvens de gás lacrimogénio do outro. Houve mais um morto, por inalação de gás lacrimogénio, o que eleva a três o número de vítimas nos protestos desde que Morsi publicou o decreto, no dia 22 de Novembro. 

Outras manifestações contra a iniciativa presidencial foram convocadas para as cidades de Alexandria, o delta do Nilo e o centro do país. Na segunda maior cidade do país, Alexandria.

Em causa está o decreto em que Morsi de dotou de poderes extraordinários, barrando a possibilidade de as suas decisões serem contestadas nos tribunais. A oposição exige a revogação imediata do decreto e a demissão do Presidente, que acusam de golpe de Estado. “A Irmandade Muçulmana roubou a revolução”, lê-se numa faixa pendurada na praça.Por um lado, a oposição uniu-se para defender o respeito pelo poder judicial - uma imagem simbólica da mobilização de hoje foi a descrita pela AFP de milhares de advogados a desfilar em direcção à Tahrir. Mas um aspecto muito importante da contestação, e que funcionou como cimento das várias pequenas forças políticas seculares da oposição foi a contestação à tomada do poder que consideram que a Irmandade Muçulmana está a fazer.

Vêem-se cartazes e faixas com dizeres contra a Irmandade Muçulmana, o partido de Mohamed Morsi: "A Irmandade Muçulmana mente", lê-se num cartaz, segundo a agência noticiosa francesa, enquanto outro diz "A Irmandade Muçulmana aqui não entra".

Mohamed ElBaradei, o ex-director da Agência Internacional de Energia Atómica que hoje lidera uma aliança de pequenos partidos da oposição, deu uma entrevista à revista alemã Der Spiegel em que condena claramente Morsi: “Ele agarrou o máximo de poder para si próprio. Nem os faraós tinham tanta autoridade, para não falar de Mubarak. Isto é uma catástrofe — é fazer pouco da revolução que o conduziu ao poder e um acto que faz temer o pior”. "O que se está a passar no Egipto representa um grave perigo para o processo de democratização do país. A opinião pública nunca esteve tão polarizada como hoje", disse o ex-secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, também entrevistado pela Spiegel.

Colisão com o poder judicial

A assinatura da polémica declaração que isenta todas as leis e decretos presidenciais do escrutínio judicial lançou o Egipto numa nova crise política e de segurança. O Governo de Mohamed Morsi entrou em rota de colisão com o poder judicial, e provocou o abandono das negociações para a redacção de uma nova Constituição por parte dos grupos cristãos e seculares na assembleia constituinte, que é dominada pelos islamistas e que também ganhou imunidade judicial com o decreto do Presidente.

Mohamed Morsi esteve reunido com os juízes do Supremo Conselho Judicial na segunda-feira, numa tentativa de sanar a crise com a magistratura que levou à paralisação dos trabalhos em vários tribunais do país.

Os juízes criticaram duramente o decreto assinado pelo Presidente e notaram que a imunidade judicial só poderia ser utilizada em matéria de soberania.

Antes do encontro, o porta-voz da presidência indicara a disponibilidade de Morsi para acatar a interpretação restritiva dos juízes e limitar o âmbito dos seus novos poderes executivos e legislativos. Mas no final da reunião, Yasser Ali informou que o Presidente não iria proceder a nenhuma emenda ao decreto assinado na última quinta-feira.

“A reunião foi um fracasso. Não podemos dizer que pôs fim à crise entre a presidência e o poder judicial”, declarou à AFP Abdel Rahman Bahlul, um dos juízes que participou no encontro.
 
 

Sugerir correcção
Comentar