Manifestações em Moscovo e São Petersburgo em defesa da “alma russa”

Discurso anti-imigração ganha várias frentes na Rússia

A manifestação de Moscovo foi convocada pelo movimento ultra-nacionalista Os Russos
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A manifestação de Moscovo foi convocada pelo movimento ultra-nacionalista Os Russos Maxim Shemetov/Reuters
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Dez mil pessoas atravessaram o bairro moscovita de Lioblino em defesa da “alma russa”, um velho conceito que está a unir facções que até aqui eram vistas como inconciliáveis.

A manifestação de Moscovo foi convocada pelo movimento ultranacionalista Os Russos, de Dmitri Demochkine. A data foi bem escolhida: esta segunda-feira celebra-se na Rússia o Dia da Unidade Nacional, uma celebração instituída em 2005 por Vladimir Putin, o actual Presidente. Demochkine chamou à manifestação em Moscovo “Marcha Russa” e as que deveriam realizar-se por todo o país também adoptaram o mesmo nome – houve desfiles em São Petersburgo e em algumas zonas da Sibéria, segundo relata a AFP.

O próprio Putin participou num acto público neste Dia da Unidade Nacional – visitou uma exposição em São Petersburgo sobre os Romanov, a família imperial morta pelos revolucionários soviéticos. A oposição acusou o Presidente de estar, ele próprio, a entrar num caminho nacionalista extremado e de apelar a um sentimento antigo e abstracto – a alma russa pré-soviética – para justificar a forma como exerce o poder.

Uma ideia que também está no discurso dos ultranacionalistas que convocaram a marcha de Lioblino. Estes não têm pudor (porque não exercem qualquer tipo de poder e assim apelam a uma opinião pública cada vez mais radical) em declarar que a Rússia tem inimigos e que esses inimigos são os imigrantes. Sobretudo os imigrantes das antigas repúblicas soviéticas muçulmanas do Cáucaso e da Ásia Central.

As manifestações ultranacionalistas tiveram lugar três semanas depois de dias de tensão em Moscovo devido à morte de um russo, tudo indica que assassinado por um imigrante do Azerbaijão.

A esta corrente nacionalista e ultranacionalista que cresce na Rússia de São Petesburgo à Sibéria – de um lado ao outro do país – junte-se um terceiro protagonista, Alexeï Navalni, que pediu aos seus apoiantes que participassem nas Marchas Russas.

Navalni é, neste momento, a figura mais conhecida da oposição e conseguiu 27% dos votos nas recentes eleições para presidente da Câmara de Moscovo. Começou a carreira política como blogger, denunciando a corrupção e fixando Putin como o seu grande inimigo. A xenofobia e os valores nacionalistas fazem parte do seu discurso político-social.

“Esta decisão foi muito difícil de tomar e sei que vai provocar muitas críticas”, disse Navalni, explicando que aderiu à manifestação para não dar motivos aos ultranacionalistas e ao Kremlin para o desacreditar – para não o poderem classificar de “não-russo”.

Quando se candidatou a presidente da Câmara de Moscovo escreveu uma carta aberta ao seu opositor, Sergei Sobianin, com a sua visão da Rússia, e os analistas ocidentais depararam com um discurso xenófobo e nacionalista. Advertia, por exemplo, sobre a presença na cidade de imigrantes uzbeques, azeris e de outras áreas do Cáucaso e da Ásia Central. Na mesma altura, numa entrevista à Rádio Europa Livre, disse ter uma “agenda realista” para desenvolver políticas destinadas a evitar o conflito étnico, sendo um ponto importante do seu programa o combate à imigração ilegal e às gangues do Norte do Cáucaso.

Entre os dez mil manifestantes do bairro Lioblino estiveram, assim, pessoas motivadas por muitas agendas (dos ultranacionalistas, que foram a maioria, do Kremlin, de Navalni). Por um momento, estiveram unidos por uma ideia de ser russo, como provaram os cartazes e as bandeiras – foram usados panos com as cores imperiais (preto, amarelo e branco) – e frases como “Primeiro uma mesquita, a seguir uma jihad”.

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