Malvado de mais

O inteligentíssimo Michael Gove mostrou ser a maior víbora de sempre do partido conservador.

A política inglesa nunca foi tão fascinante como nos últimos dias. Aparece sempre um bandido ainda mais manhoso do que o anterior. O inteligentíssimo Michael Gove mostrou ser a maior víbora de sempre do partido conservador, uma distinção em que não faltam concorrentes.

Gove usou as amizades falsas com David Cameron e Boris Johnson (que eram condescendentes com ele) para destrui-los politicamente. A vingança levou anos a planear. O plano deve ter começado quando Cameron lhe tirou o Ministério da Educação.

Gove fingiu não se importar. Mas importou-se. Os dois meninos de Eton – um bonzinho que pagou as propinas (Cameron) e outro malandro que ganhou uma bolsa para lá estar (Johnson) – pensavam que estavam a usar Gove. Mas foi Gove que os usou a eles, contando com a preguiça e a vaidade de ambos.

Ao declarar-se a favor do “Brexit”, Gove, não obstante a sinceridade das convicções dele e a paciência com que as expôs, criou as condições para expor a grande rivalidade entre Cameron e Johnson. Bastou seduzir Johnson para o lado do “Brexit” (com a ideia de torná-lo primeiro-ministro se ganhasse ou, caso perdesse, principal candidato a primeiro-ministro depois da saída anunciada de Cameron).

Depois só lhe bastou trair Johnson. Só não contou com uma coisa: há um limite para as traições. Uma (Cameron) ainda se aceita. Duas (Cameron e Johnson) são indesculpáveis. Gove traiu dois amigos, dois aliados e dois colegas.

Gove, dito sensato, vingou-se com malvadez de mais. Lixar-se-á.

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