Afinal 26% (e não 65%) brasileiros acham que mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas

IPEA errou nos resultados. Director demitiu-se.

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Nana Queiroz numa foto que colocou no Facebook DR

Um dos resultados que chocaram o Brasil afinal estava errado. O IPEA (Instituto de Pesquisa Económica Aplicada), uma fundação vinculada à Presidência da República, revelou ao final da tarde desta sexta-feira que são 26% (e não 65%) os brasileiros que consideram que as “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.

Uma semana depois da divulgação dos resultados, o IPEA vem agora reconhecer que trocou as percentagens das respostas de duas perguntas: “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar” e “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Assim, 65% dos inquiridos concordaram com a primeira e 26% com a segunda – e não o contrário, como tinha sido publicado a 27 de Março.

“Relatámos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias", diz uma nota do IPEA, revelando que “o director de Estudos e Políticas Sociais do IPEA pediu a sua exoneração assim que o erro foi detectado”.

Este não foi o único erro do inquérito. Houve outro par de respostas cujos resultados foram trocados, embora neste caso com menor influência na análise global dos resultados. “Apresentados à frase ‘O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros’, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram parcialmente, 1,9% ficou neutro (não concordou nem discordou), 31,5% concordaram parcialmente e 47,2% concordaram totalmente”, esclarece o instituto. E colocados perante a pergunta “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”, “11,1% discordaram totalmente, 5,3% discordaram parcialmente, 1,4% ficaram neutros, 23,5% concordaram parcialmente e 58,4% concordaram totalmente”, acrescenta o mesmo comunicado.

Apesar dos erros na divulgação de alguns resultados, o IPEA realça que 58,5% dos entrevistados concordam “com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros [violações]”.

“As conclusões gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre seus preconceitos. Pedimos desculpas novamente pelos transtornos causados e registramos nossa solidariedade a todos os que se sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da segurança das mulheres”, finaliza o comunicado.

Os resultados do inquérito Tolerância social à violência contra as mulheres provocaram uma onda de indignação nas redes sociais. Surgiu até uma campanha no Twitter feita por uma jornalista, Nana Queiroz: ela aparece sem roupa e com a frase “Não mereço ser estuprada [violada]” escrita no corpo, e apela a outras mulheres que façam o mesmo (o que aconteceu, tornando a campanha viral, tendo a jornalista sido depois ameaçada de violação, segundo denunciou). A própria presidente da República, Dilma Rousseff, publicou um tweet em que referia os resultados do estudo: “Tolerância zero à violência contra a mulher”, dizia.

Realizada entre Maio e Junho de 2013 em municípios das cinco grandes regiões brasileiras, a pesquisa teve uma amostra de 3810 pessoas de ambos os sexos, em que 66,5% eram mulheres, 28,5% jovens dos 16 a 29 anos, 52,4% adultos dos 30 a 59 anos e 19,1% de 60 ou mais anos. 

Notícia actualizada às 23h03, com admissão feita pelo IPEA de que se enganou em resultados.

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