Mais de 2000 migrantes já morreram este ano no Mediterrâneo

Morre-se de sede, morre-se no mar em embarcações sem condições para navegar, a tentar chegar às costas da Europa, onde perto de 200 mil imigrantes já desembarcaram este ano.

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Imigrante acabado de ser salvo no Mediterrâneo pelo navio dos Médicos Sem Fronteiras Darrin Zammit Lupi/REUTERS

Mais de 2000 pessoas morreram já este ano no Mediterrâneo, às portas da Europa, sobretudo as que tentam cruzar os cerca de 500 km que separam a Sicília, em Itália, das costas da Líbia, nas contas da Organização Internacional das Migrações (OIM).

A rota do Mediterrâneo Central é a mais perigosa de todas. Embora tanto a Grécia como Itália tenham registado este ano um enorme afluxo de migrantes (cerca de 97 mil e 90.500, respectivamente, na contabilidade da OIM; cada organização tem números um pouco diferentes), o número de mortes diverge bastante. O motivo é que quem tenta a viagem de África para Itália tem de fazer uma travessia marítima ainda considerável, e os contrabandistas de pessoas colocam-nos em embarcações sem condições para navegar, meros botes de borracha, com furos, sem motor. Por isso, estão registadas 1930 mortes de imigrantes que tentavam chegar a Itália e cerca de 60 dos que tinham como objectivo as ilhas gregas, através de uma pequena travessia por mar, a partir da Turquia, diz a OIM.

Embora o reforço da operação Tritão no Mediterrâneo tenha permitido salvar mais pessoas – o mês com mais mortes foi Abril, com 1265, após um grande naufrágio –, a morte de imigrantes continua a dar-se quase diariamente, sobretudo no Canal da Sicília.

A última tragédia aconteceu no fim-de-semana, quando o navio dos Médicos Sem Fronteiras Bourbon Argos chegou a Palermo com cinco corpos recuperados já sem vida numa embarcação onde viajam 107 outras pessoas. Estas pessoas morreram de desidratação porque toda a água que tinham foi usada, ao longo de uma viagem de 13 horas, desde a Líbia, para arrefecer o motor avariado do bote em que tinham sido colocados.

Actualmente, a maioria dos que procuram esta rota são africanos – sírios e afegão fazem o caminho de fuga à guerra por terra, para chegar à Turquia e finalmente à Grécia. Nas ilhas gregas, descobrem outro inferno: “O que encontrámos é uma ausência de quem assuma a responsabilidade, de qualquer mecanismo de coordenação, de tomada de decisão”, afirmou Vincent Cochetel, director para a Europa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, após uma visita na semana passada à Grécia, onde os refugiados se amontoam sem serem processados.

Não é na Grécia ou em Itália que estas pessoas querem ficar – chegaram 188 mil, já este ano, segundo a OIM, que em breve serão 200 mil, pois as boas condições meteorológicas do mês de Agosto acelerarão ainda mais este movimento migratório. O seu destino desejado são outros países mais a Norte – um deles é a Alemanha, onde já foram feitos mais de 300 mil pedidos de asilo desde o início do ano, e se estima que até ao fim de 2015 ultrapassem os 450 mil.

Calais, no Norte de França, é um local onde estes imigrantes ficam bloqueados, porque pretendem chegar às ilhas britânicas e ali efectivamente encontram uma barreira ainda mais intransponível que o Mediterrâneo. Isto sem falar nos pontos de tensão que se estão a multiplicar na Europa central e nos Balcãs, onde os migrantes que chegam à Grécia tentam continuar viagem para pedir asilo, cruzando a Sérvia, Hungria, República Checa, Polónia… locais onde não são bem recebidos.

Mesmo na Alemanha, o apoio ao acolhimento de refugiados está a diminuir. Uma sondagem da televisão pública ZDF da semana passada revelava que 77% dos alemães acha que a política de asilo devia mudar. E os fogos-postos em abrigos de refugiados multiplicam-se: mais de 200 foram atacados desde o início do ano, diz a emissora Deutsche Welle.

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