Maioria absoluta do PS travou entrada de Marine Le Pen no Parlamento francês

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Marion Le Pen, a mais jovem do clã de extrema-direita, foi eleita para o Parlamento aos 22 anos Boris Horvat/AFP

Uma maioria absoluta para o Partido Socialista francês nas eleições legislativas, ao qual a contagem de votos, ainda incompleta dava 291 assentos no Parlamento, com alguns amargos de boca, como a derrota de Ségolène Royal, que a própria classificou como “uma traição”, num caso de folhetim político que incluiu ciúme da primeira-dama, intriga política local e um claro aproveitamento da direita. E a surpresa da noite: Marine Le Pen, que todos davam já como certa no Parlamento, foi batida pelo candidato socialista em Hénin-Beaumont — embora ela tenha pedido uma recontagem dos votos.

Apenas uns 200 votos expressos separaram Marine Le Pen do socialista Philippe Kemel. A recontagem deve acontecer ainda durante a noite. Mas se a líder da Frente Nacional (FN) falhou a eleição para o Parlamento, felicitou-se pelo “sucesso enorme do seu partido”: a sua sobrinha de 22 anos, Marion Maréchal-Le Pen, conseguiu-o, tornando-se na mais jovem deputada, para orgulho do seu avô, Jean-Marie Le Pen, que a empurrou para esta candidatura. Um outro deputado desta força anti-imigração, anti-muçulmanos e pela saída do Euro e da União Europeia foi também eleito: o advogado Gilibert Collard.

Com dois deputados na Assembleia Nacional, no entanto, este partido de extrema-direita não poderá formar grupo parlamentar e não poderá mudar grande coisa, nem sequer terá grande tempo para intervenções. Mas pode sempre apresentar propostas de lei — embora dificilmente cheguem a ser votadas. O seu tempo de antena, em termos de acesso aos media, é amplificado.

Ségolène traída

Quem fica de fora nestas eleições com uma abstenção quase recorde de 44,3% é quase tão importante como quem ganha. Ségolène Royal, que foi batida pelo socialista dissidente Olivier Farlorni (que se candidatou apesar de o PS ter escolhido Royal para se apresentar naquele círculo eleitoral), concedeu a derrota ainda antes de encerrarem as urnas.

Royal disse que foi “uma vitória da direita”, porque “75% dos votos de Farlorni foram da direita”, e disse que foi vítima de uma traição. Citou Victor Hugo: “A traição trai o traidor (...) chega o dia em que o traidor se torna odioso mesmo para aquele que beneficia da traição”.

Poderia estar a pensar em várias pessoas quando disse isto. Na primeira-dama Valérie Trierweiller, com o seu tweet de apoio a Farlorni, mas não só. “O PS fez mesmo tudo para travar este dissidente? Será preciso clarificar as coisas...”, disse Ségolène. A líder do PS, Martine Aubry, recusou-se a falar com Farlorni, e garantiu que ele não fará parte do grupo socialista na Assembleia.

Ségolène garantiu que continuará “a pesar sobre as escolhas da política nacional” francesa. De que forma? Candidatando-se de novo à direcção do partido, que em breve ficará livre? Martine Aubry já disse que se afastará no próximo congresso. “Não excluo nada...”, respondeu aos jornalistas.

UMP punida

Do lado do partido de Nicolas Sarkozy, a UMP, os eleitores castigaram figuras gradas que se destacaram na adopção da retórica da FN. Claude Guéant, que foi ex-chefe de gabinete e ministro do Interior e se distinguiu por dizer que nem todas as civilizações têm o mesmo valor (falava da civilização árabe), não obteve o seu lugar de deputado.

O mesmo aconteceu a Nadine Morano, ministra da Aprendizagem do governo de François Fillon, que foi uma das porta-vozes de Sarkozy, e na última semana apelou directamente aos eleitores da Frente Nacional a que votassem nela. Ficou de fora do Parlamento, e viu-se obrigada a dar a notícia em directo na France 2.

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