Mafiosos italianos receberam durante anos ajudas europeias à agricultura

Entre os beneficiários está Gaetano Riina, actualmente detido, irmão do antigo “chefe dos chefes” mafiosos, Salvatore Riina, que também está na prisão.

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A plantação de oliveiras foi a justificação dada nalguns casos Paulo Ricca/Arquivo

Destacados mafiosos receberam, durante anos, centenas de milhares de euros de ajudas europeias à agricultura, aproveitando uma falha jurídica, revelam decisões do tribunal de contas italiano.

Condenados e suspeitos investigados pela polícia receberam ajudas provenientes da Política Agrícola Comum (PAC) que, no caso de alguns, chegaram a 153 mil euros.

As sentenças do tribunal em que é exigida a devolução de apoios mostram que, ao longo de 20 anos, mafiosos – alguns dos quais estavam na prisão – receberam ajudas que, somadas, ultrapassaram os dois milhões de euros. A parte de leão, cerca de 1,8 milhões, foi recebida na Sicília.

A legislação italiana proíbe a atribuição de apoios a pessoas condenadas, mas se o montante for inferior a 153 mil euros não é necessário apresentar registo criminal que prove que o beneficiário não é acusado de crimes mafiosos.

Entre os mais destacados mafiosos que receberam ajudas europeias está Gaetano Riina, irmão do antigo “chefe dos chefes” mafiosos, Salvatore Riina, actualmente na prisão. Gaetano foi preso no ano passado e acusado de tentar reconstituir o império do irmão. Em 1997 recebeu mais de 42 mil euros.

Outro mafioso que recebeu fundos foi Antonio Piromalli, membro da Ndrangheta, a máfia calabresa, que obteve 25.720 euros para a plantação de olivais em 2005, 2008 e 2009.

"Até há dois meses não tínhamos sequer uma lista dos mafiosos para comparar com os destinatários dos fundos”, disse à AFP Giancarlo Nanni, director da Agea, agência italiana que gere os apoios europeus à agricultura. "Os mafiosos são muito inteligentes, sabem exactamente como contornar os controlos jurídicos", disse.

Contactado pela AFP, o representante da Comissão Europeia em Roma disse que cabe "aos países membros impedir e gerir as ilegalidades e recuperar as ajudas pagas indevidamente".

Fabio Granata, deputado oriundo da Sicília, advogado penalista e membro da comissão parlamentar antimáfia, declarou-se chocado. "Não acredito nos meus olhos! É um problema de vontade política, é indesculpável", disse.

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