Maduro firme ao leme do Governo da Venezuela, apesar dos ventos adversos

População vive em situação de penúria, mas continua ao lado do Presidente, "chavistas puros e duros".

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Presidente Nicolás Maduro resiste no poder AFP/FEDERICO PARRA

Sete em dez venezuelanos dizem querer a sua saída, culpam-no pela crise económica e acusam-no de ter partido o país ao meio. A oposição prometeu fazer de tudo para o tirar do poder. E mesmo assim, o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, resiste, mantendo-se firmemente ao leme, conduzindo os destinos do país.

O dirigente socialista, eleito em 2013 e com mandato até 2019, deve grande parte da sua sobrevivência política ao controlo militar e institucional do regime chavista, garantido através dos generais – no activo ou na reforma – que ocupam dez dos 30 ministérios do país, entre os quais a Defesa, a Agricultura ou a Habitação.

O Governo “tem o controlo das instituições e uma relação estreita e forte com o Exército”, explica Luis Vicente Léon, presidente do instituto de sondagens Datanalisis. E, dizem vários analistas, o domínio de Maduro vai ainda mais longe, abrangendo a “totalidade dos poderes públicos”, os tribunais e as autoridades eleitorais – que são dois actores fundamentais para o avanço do referendo revogatório do mandato do Presidente que a oposição pretende convocar.

Se o processo não estiver concluído a tempo de marcar a votação antes de 10 de Janeiro de 2017, mesmo que a consulta popular seja autorizada, já não dará origem a eleições antecipadas para a substituição do Presidente: mesmo que o mandato de Maduro seja revogado, o que a lei determina é que seja o vice-presidente a assumir o poder nos anos restantes.

“O chavismo controla o Estado venezuelano quase na sua totalidade, É por isso que, apesar da deterioração dramática da situação na Venezuela, existe uma forte possibilidade de que Maduro se mantenha no poder”, estima Michael Shifter, o presidente do Diálogo Interamericano, um think-tank norte-americano sedeado em Washington.

Depois de vários anos dividida pelas derrotas eleitorais, a oposição vive actualmente o seu melhor momento nos 17 anos do chavismo, à custa da sua histórica vitória nas legislativas de Dezembro que lhe garantiram a maioria absoluta da Assembleia Nacional.

No entanto, as fracturas antigas não estão curadas dentro da ampla coligação Mesa da Unidade Democrática (MUD), composta por partidos e movimentos políticos diversos, e que apesar do último resultado, não suscita um enorme entusiasmo popular, segundo Luis Vicente Léon. "Não existe uma liderança clara que seja capaz de conquistar multidões ou alimentar uma grande paixão para a mudança", observa.

Os membros da coligação “estão de acordo sobre a importância de destituir Maduro e sobre a necessidade de implementar reformas económicas com carácter de urgência. Mas quanto a todas as outras questões, as divisões ainda são muitas, e muito importantes”, concorda Michael Shifter.

Os analistas lembram que o actual Presidente venezuelano nunca chegará ao mesmo patamar do seu antecessor e mentor político, Hugo Chávez, em termos de popularidade e de credibilidade. “Maduro é bastante mais instável”, aponta Luis Vicente Léon.

Mesmo assim, o líder socialista sabe explorar a retórica e a figura de Chávez, aproveitando a lealdade do grupo mais fiel do regime, para consolidar o seu apoio. “Maduro é reforçado pela herança do chavismo no país e na região. Todas as críticas que lhe são dirigidas provocam sobressaltos e complicações, ideológicas e diplomáticas”, assinala Michael Shifter.

Uma grande parte dos 30 milhões de habitantes do país sobrevive em situação de penúria. Mesmo assim, 35% dos venezuelanos descrevem-se como “chavistas puros e duros”. “Há um bloco importante no país que continua disposto a apoiar o chavismo e o Presidente. A alternativa da oposição não lhes merece confiança”, acrescenta Shifter.

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