Prisão do líder do PT no Senado é novo golpe para Dilma Rousseff

Pela primeira vez em democracia, a Justiça ordena a prisão de um senador. Milionário André Esteves também foi detido para interrogatório.

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Delcidio Amaral, o primeiro senador preso na democracia brasileira Ueslei Marcelino/Reuters

O campo da Presidente brasileira sofreu um duro golpe na quarta-feira com a prisão do líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Delcidio do Amaral, na sequência da investigação à rede de corrupção na Petrobras.

O banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, o maior banco de investimentos da América Latina, também foi ouvido no Rio de Janeiro, por suspeita de ter tentado bloquear a investigação.

A prisão de um senador em funções é um acontecimento único na história da democracia brasileira. A prisão preventiva foi autorizada pelo Tribunal Superior Federal, que retirou a imunidade parlamentar ao senador por "flagrante delito", e foi também aprovada, por 59 votos a favor e 13 contra, pelo Senado brasileiro.

Apesar de haver dezenas de nomes de deputados referenciados na investigação, Delcidio Amaral – que foi um dos artífices do programa de austeridade do Governo – é o primeiro a ser detido no âmbito da Lava Jato, o nome da investigação à corrupção na empresa petrolífera estatal.

A investigação foi aberta em 2014 e expôs a rede de trocas de favores entre a Petrobras e as empresas com que celebrava contratos — as empresas pagavam comissões de 3% aos deputados da coligação no poder por cada contrato que conseguiam. Vários altos funcionários da petrolífera foram acusados, assim como empresários de algumas das mais importantes construtoras do país e inúmeros intermediários.

No início do ano, a Petrobras assumiu que, por causa deste esquema de corrupção, perdeu muitos milhares de dólares — a polícia federal estima que as perdas foram de 11 milhões de dólares (mais de 10 milhões de euros).

A polícia decidiu prender Amaral depois de ouvir uma gravação feita pelo filho do antigo director da Petrobras Nestor Cervero, actualmente na prisão e que está a negociar um acordo de redução de pena. Na conversa, o senador tenta convencer o filho de Cervero a pressionar o pai para que rejeite colaborar com a Justiça. Em troca, oferece-se para o ajudar a fugir para Espanha, depois de libertado, e para pagar à família uma renda mensal de 13.500 dólares.

Por seu lado, André Esteves, que segundo a imprensa é a 13.ª pessoas mais rica do Brasil, foi ouvido por ser suspeito de ser o financiador do acordo com Cervero, que em Agosto foi condenado a 12 anos de prisão.

Os 13.500 dólares mensais, segundo os investigadores, seriam pagos à família Cervero através de um "acordo dissimulado" entre o banqueiro e o advogado Edson Ribeiro, que defende o antigo director da Petrobras.

O banco BTG Pactual, em comunicado, fez saber estar à disposição das autoridades para colaborar com a investigação.

Este novo desenvolvimento é mais um revés para a Presidente, Dilma Rousseff, que desde a sua reeleição, em 2014, tem visto a sua popularidade descer sucessivamente, estando já abaixo dos 10%. A Presidente sofre os efeitos devastadores do escândalo Petrobras, da recessão económica e de uma crise política que ameaça o seu mandato.

O Partido dos Trabalhadores já fora este ano atingido com a prisão e acusação do seu tesoureiro, João Vaccari, e do antigo chefe de gabinete do ex-Presidente Lula da Silva, José Dirceu, uma figura histórica do partido de esquerda.

Outros altos responsáveis da coligação no poder são visados em investigações. É o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros, membro do partido centrista PMDB, mas que ainda não foi indiciado. E também do presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, quarta figura do Estado, membro do PMDB e um adversário feroz de Dilma Rousseff, que mantém refém o campo presidencial que tenta salvar a pele. Cunha ameaça dar seguimento a pedidos da oposição para a destituição de Dilma Rousseff, que só ele tem o poder de travar, se o partido presidencial lhe retirar apoio.

Este deputado ultraconservador é acusado de ter recebido milhões de dólares em subornos, depositados em contas na Suíça, conforme confirmou a Justiça deste país, apesar de Cunha o ter negado perante a comissão que realiza um inquérito parlamentar ao caso Petrobras. Eduardo Cunha é alvo de um processo em curso na Comissão de Ética do Parlamento que pode levar à sua perda de funções.

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