Líder do Irão compara ataques árabes no Iémen aos de Israel a Gaza

Ali Khamenei sobe tom para com a rival Arábia Saudita. Ayatollah arrefece entusiasmo criado por pré-acordo sobre programa nuclear.

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“A agressão da Arábia Saudita criou um mau precedente na região”, disse Khamenei AFP

O líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, acusou a Arábia Saudita de estar a cometer genocídio no Iémen, onde prosseguem ataques aéreos de uma coligação árabe sunita liderada por Riad contra os rebeldes xiitas. “O que o Governo saudita está a fazer ao Iémen lembra o que o regime sionista faz a Gaza. É um massacre, um genocídio que pode ser julgado em tribunais internacionais”, disse, em declarações divulgadas pelo seu site oficial e pela televisão, e traduzidas pelas agências AFP e Reuters.

O número um iraniano arrefeceu também o entusiasmo criado no país com a perspectiva de um acordo internacional de redução do programa nuclear iraniano que acabe com as sanções, embora não tenha excluído um entendimento. “O que foi feito até agora não garante nem o acordo em si, nem que as negociações vão até ao fim”, declarou Khamenei, a quem cabe, do lado de Teerão, a última palavra sobre um entendimento.

Quanto ao Iémen, o líder iraniano considera a actuação saudita “inaceitável”. “A agressão da Arábia Saudita contra o Iémen e o seu povo inocente foi um erro … criou um mau precedente na região”, disse. “Riad não sairá vitorioso desta agressão.” O ayatollah denunciou “massacres de crianças e a destruição de casas, de infra-estruturas e das riquezas do Iémen”, e falou numa mudança na política externa saudita que atribui a “alguns jovens inexperientes”.

Khamenei criticou também o apoio norte-americano à coligação sunita, dizendo que “está na natureza dos Estados Unidos apoiarem os opressores”.

O secretário de Estado de Washington, John Kerry, tinha afirmado que as autoridades de Teerão fornecem armamento aos rebeldes huthis do Iémen, um grupo xiita – tal como o Irão – que controla vastas áreas do país. “O Irão deve saber que os Estados Unidos não ficarão de braços cruzados enquanto a região é desestabilizada e há quem lance uma guerra aberta através das fronteiras internacionais”, declarou, citado pela AFP. “Houve – há, obviamente – voos provenientes do Irão. Todas as semanas, localizámo-los e sabemos disso.”

Os ataques da coligação árabe no Iémen, iniciados há duas semanas, visaram na quinta-feira posições huthis nas regiões de Taez, no sudoeste; na capital, Sanaa; e no Norte, tradicional feudo do grupo; disseram testemunhas à agência. Os huthis combatem os apoiantes de Abd Mansour Hadi, Presidente exilado em Riad. Têm o apoio de soldados leais ao ex-Presidente Ali Abdullah Saleh. Nas últimas semanas os confrontos têm tido mais intensos na cidade de Áden.

Ali Khamenei quebrou também o silêncio sobre o acordo conseguido no final da semana passada entre o Irão e os países do grupo 5 + 1 (China, EUA, França, Reino Unido + Alemanha) sobre aspectos-chave de um acordo de redução da capacidade nuclear iraniana, a troco do levantamento de sanções. As negociações para um entendimento final devem prosseguir até ao fim de Junho, mas os avanços foram recebidos com manifestações de júbilo no Irão.

O líder reclama agora que todas as sanções ao Irão sejam levantadas em simultâneo com um acordo final e mostrou algum distanciamento em relação ao entendimento obtido em Lausanne, que prevê o desmantelamento de mais de dois terços da capacidade iraniana de enriquecimento de urânio. “Nem apoio nem me oponho”, disse. “Nunca estive optimista sobre negociações com a América… no entanto, concordei, apoiei-as, e ainda apoio”.

Num discurso que é também ele um elemento de estratégia negocial, Khamenei deixou vários sinais: disse que o nuclear é uma “necessidade” para o desenvolvimento do Irão, que a supervisão internacional não pode implicar a inspecção de instalações militares e aludiu a intenções “demoníacas” dos EUA. Afirmou ainda que um prolongamento do prazo para além de 30 de Junho não seria o fim do mundo.

Um dos primeiros a reagir às palavras do guia supremo foi o ministro francês dos Negócios Estrangeiros. Laurent Fabius disse que as declarações mostram que há muito trabalho a fazer antes de um acordo final sobre o programa nuclear.

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