Líder da UNITA entende que Portugal devia "questionar origem" do dinheiro angolano

Presidente do maior partido da oposição disse que está a ser preparado um pedido de “investigação judicial” em Angola às ligações financeiras da família de José Eduardo dos Santos.

Foto
Samakuva diz que conflito já não é entre UNITA e o Governo, mas entre o povo e o Presidente AFP/Arquivo

Isaías Samakuva, líder do principal partido da oposição em Angola, a UNITA, considera que é “responsabilidade” das autoridades portuguesas “questionar a origem” do dinheiro de investimentos angolanos em Portugal.

“Pelo que se conta, são histórias do dia-a-dia, pelo menos em Angola, esse dinheiro vem em malas, em aviões que aterram em Lisboa, e são descarregadas sem que ninguém diga alguma coisa. É verdade?... Não é verdade?...”

Numa entrevista à SIC Notícias, segunda-feira à noite, o presidente da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) disse que interessa investigar essas situações, “até para a credibilidade dos visados”. Questionado sobre a eventual existência de “laxismo” na matéria, Samakuva respondeu: “Acho que sim, tanto da parte das autoridades portuguesas como também da comunidade internacional”.

Samakuva, que está em Portugal no final de uma digressão internacional iniciada nos Estados Unidos, disse também que o seu partido tem em preparação um pedido para uma “investigação judicial” às ligações financeiras da família do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

“Primeiro, temos necessidade de saber a verdade. E em segundo penso que é injusto que o senhor Presidente e a sua família sejam acusados por algo que talvez não tenha sido provado. Então, para o benefício do próprio Presidente haverá necessidade de fazermos esta diligência e chegarmos a uma conclusão”, disse, aludindo ao “facto” de a família do Presidente, designadamente a filha Isabel dos Santos, ser “mencionada pela imprensa como tendo participações bastante importantes um pouco por toda a parte”.

“Não sabemos se os investimentos que às vezes se fazem em nome de Angola são realmente do Estado ou de indivíduos que gerem o Estado angolano e se estão a aproveitar da oportunidade que têm para fazer essas movimentações”, disse também, noutro passo da entrevista.

Também à agência Lusa o presidente da UNITA se mostrou “curioso” sobre a origem do capital angolano utilizado na aquisição recente de bens e serviços na economia portuguesa. “Quando actividades desta natureza se realizam num clima de transparência” legal “não há receio nenhum”, afirmou. Mas “quando as coisas se fazem como são feitas, isso é preocupante para Angola, sobretudo porque não sabemos se essas compras” são feitas “em nome do Estado angolano ou em nome de pessoas individuais”.

Na SIC Notícias, o político angolano alertou para a “tensão social entre o povo e o Governo”, que “não consegue resolver problemas básicos da população”. “O conflito social a que me refiro agora em Angola já não é UNITA contra Governo” é “entre a população, o povo, e o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder], entre o povo e o Presidente José Eduardo dos Santos”, disse Samakuva, que referiu problemas como o abastecimento de água e electricidade e a falta de medicamentos e cuidados médicos. 
 

Sugerir correcção
Comentar