Líder da Esquerda Republicana diz que Espanha vai perder Catalunha, como perdeu Portugal, Cuba e Holanda

Oriol Junqueras afirma que Madrid "nunca quer ceder, nunca quer pactuar", "fez o mesmo com todos e perdeu tudo".

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"Insistiremos,exploraremos todas as vias", diz Junqueras Albert Gea/Reuters

A Espanha vai perder a Catalunha, como perdeu Portugal, Cuba e Holanda. É essa a convicção do líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Oriol Junqueras, numa entrevista publicada esta sexta-feira pelo diário El Mundo.

 “Não entendo a teimosia da Espanha, que quer sempre o tudo ou nada e [quer sempre] ganhar por goleada. De que é que isso serve? Nunca quer ceder, nunca quer pactuar. Foi assim que perdeu Cuba, Portugal, Holanda e assim perderá a Catalunha. Fez o mesmo com todos e perdeu tudo”, disse.

A entrevista – que invoca situações históricas dos séculos XVII, no caso de Portugal e da Holanda,  e do século XIX, no de Cuba – surge numa altura em que a ERC ultrapassa pela primeira vez os nacionalistas de direita da Convergência União (CiU) nas intenções directas de voto, apesar de Junquera declarar que não dá muita importância às sondagens. “Não são muito fiáveis.”

Questionado a propósito da oposição do Governo central à realização de um referendo sobre a independência da Catalunha, promete tentar todas as formas legais de o conseguir. “Insistiremos, exploraremos todas as vias possíveis”, disse. “O mais provável é que, se não houver referendo, haja eleições”, acrescentou.

Num cenário de novas eleições, admite que a CiU e a ERC, que se entenderam para formar um executivo na Catalunha depois da consulta eleitoral de Novembro de 2012, poderão apresentar-se “com um programa comum em que a independência fosse o ponto único”. O executivo catalão pretende referendar a independência em 2014.

Um estudo de opinião do Centre d’Étudis d’Opinió divulgado esta semana indica que a ERC ultrapassa a CiU nas intenções directas de voto, com 20,9% contra 19,3%, mas a ponderação feita considera outros factores que manteriam os nacionalistas de direita como força mais votada.

Depois de juntar às intenções de voto a notoriedade das lideranças, a expectativa de vitória e a ocultação do sentido de voto que parte dos inquiridos fazem nas sondagens, o estudo conclui que a CiU continuaria a  ter a maioria de deputados na Catalunha, mantendo 40 a 42 dos 50 que elegeu em Novembro. A ERC subiria de 21 para 27 e o Partido Popular, no Governo em Madrid, cairia de 19 para 16-17.

Questionado sobre o facto de a União Europeia não aceitar a divisão de um Estado-membro, o líder nacionalista republicano respondeu que isso não aconteceu ainda porque a questão nunca se colocou. “Digam o que disseram agora, não creio que, chegados a esse momento, tenhamos qualquer problema.”

Oriol Junqueras considera que “o problema do Estado espanhol é que não é atraente” porque “tem o recorde de processos por desrespeito das normativas europeias; é o país do mundo que mais vezes suspendeu pagamentos ao longo da sua História; lidera o índice de miséria da Europa; e, depois da China, é o país com a linha de alta velocidade mais extensa do mundo e não há um só troço que seja rentável. Só o troço Madrid-Barcelona gera [receitas] para pagar os gastos, mas não para pagar o investimento. Um Estado assim não tem futuro”.

O político catalão entende que o “que mais convém à Espanha é que a Catalunha seja independente”. E diz que o Estado central tem de “aprender a investir em estruturas rentáveis”. Confrontado pelo jornal sobre se não considera arrogante propor-se como solução para tudo, afirma: “Se quiserem, quando tivermos o nosso Estado, assessoramo-los sobre como têm de fazer para não se afundarem na miséria”.

Corrigida, às 12h20, no terceiro parágrafo, a referência a século XVI para século XVII 
 
 

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