Líder norte-coreano vai à Rússia, mas qual líder?

A acontecer, a viagem pode marcar uma mudança de direcção na diplomacia de um dos Estados mais párias do mundo.

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Kim Jong-un surgiu na televisão pública para ler uma mensagem de ano novo JUNG YEON-JE/AFP

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, criou a confusão com a sua escolha de palavras. Nesta quarta-feira, anunciou que o "líder" norte-coreano aceitou ir à Rússia participar na celebração dos 70 anos do fim da II Guerra Mundial. De que líder estava a falar? De Kim Jong-un ou de outra figura do topo da hierarquia de Pyongyang?

A pergunta faz sentido a vários níveis. O mais importante é o da diplomacia — desde que herdou do pai o lugar de número um do regime, em 2011, Kim Jong-un não fez qualquer viagem oficial ao estrangeiro. A confirmar-se que a primeira será à Rússia, isso pode significar uma mudança de direcção na política externa, até aqui dominada pelas relações com a China, que tem mantido este que é um dos países mais párias do mundo sob a sua esfera de influência.

O líder anterior, Kim Jong-il, fez poucas viagens oficiais — chegou a ir à Rússia, no ano em que morreu (2011) — e a maior parte delas à China, que durante muitos anos foi o único grande aliado internacional da Coreia do Norte. Nos últimos anos, porém, a relação Pequim-Pyongyang esfriou. Kim Jong-un tem mostrado menos disponibilidade do que o seu pai para seguir as grandes orientações de Pequim. A China, por seu lado, não escondeu a impaciência perante a rebeldia do velho aliado em matérias como o nuclear; Pequim apoiou as novas sanções da ONU contra a Coreia do Norte depois do ensaio de um míssil nuclear em 2013.

A notícia de que os russos tinham convidado Kim começou a circular no início do ano e, no dia 21, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, confirmou-o. O Kremlin enviou a Kim um convite para estar presente na celebração de 9 de Maio, e a primeira reacção do Governo de Pyongyang "foi positiva", disse Lavrov aos jornalistas.

Porém, e para acalmar os canais diplomáticos, a Coreia do Sul rapidamente tentou desfazer o impacte da notícia. Em declarações à agência noticiosa sul-coreana Yonhap, o ministro para a Unificação explicou que o anuncio do porta-voz do Kremlin é ambíguo e pode não significar o que parece. Kim, explicou o ministro, não costuma ser mencionado como "líder" mas como "chefe de Estado".

A Yonhap avança que o "líder" norte-coreano em Moscovo poderá ser Kim Yong-nam, presidente do Presidium da Assembleia Suprema do Povo — que costuma representar o Governo norte-coreano a nível internacional — e não o próprio Kim Jong-un. E sublinha que apesar das declarações do porta-voz, o Kremlin ainda não divulgou a lista de convidados.

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