Kiev abandona estatuto de não-alinhado a pensar na adesão à NATO

Moscovo diz que aproximação à Aliança Atlântica “transforma a Ucrânia num adversário militar potencial da Rússia”.

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O texto foi aprovado sem polémica por uma maioria de 303 deputados GENYA SAVILOV/AFP

A Ucrânia deu mais um passo em direcção à NATO, renunciando nesta terça-feira ao seu estatuto de país não-alinhado, uma decisão que provocou a cólera de Moscovo.

O parlamento ucraniano votou por uma larga maioria de 303 deputados, e com apenas oito votos contra, a favor de um projecto de lei que compromete Kiev a “preencher os critérios necessários para uma adesão à Aliança Atlântica”.

O texto, aprovado sem polémica num parlamento dominado pelos pró-ocidentais, deve agora ser simplesmente promulgado pelo Presidente Petro Porochenko, que explicou a sua necessidade pela “agressão” militar russa contra a Ucrânia.

A “anexação ilegal” por Moscovo da península ucraniana da Crimeia em Março e a “intervenção militar” russa no Leste da Ucrânia “determinam a necessidade de procurar garantias mais eficazes para a independência, a soberania, a segurança e a integridade territorial” do país, sublinha a nota de análise que acompanha o projecto de lei.

A Rússia anexou a Crimeia depois da queda, em Fevereiro, do Presidente ucraniano pró-russo Viktor Ianukovitch, que reprimiu violentamente as manifestações pró-europeias em Kiev, antes de fugir para a Rússia.

Kiev e o Ocidente acusam também Moscovo de ter organizado e armado a rebelião pró-russa no Leste da Ucrânia, o que levou as autoridades ucranianas a lançar uma ofensiva militar na região de Donbass. Neste confronto já morreram mais de 4700 pessoas desde o início de Abril.

A Rússia também é acusada de ter enviado para o Leste da Ucrânia tropas regulares — até agora dez mil sodados, segundo Kiev. Moscovo desmente qualquer intervenção directa no conflito, mas isso não evitou que fosse alvo de pesadas sanções ocidentais.

O caminho da Ucrânia em direcção à NATO continua incerto e cheio de obstáculos. Porochenko evocou a data teórica de 2020 para uma eventual adesão mas esta perspectiva divide os membros da Aliança Atlântica, com a França e a Alemanha a mostrarem-se muito reticentes.

O abandono do estatuto de não-alinhado do país, um gesto largamente simbólico, provocou a cólera de Moscovo, que voltou a denunciar a aproximação da NATO às suas fronteiras e prometeu “reagir”.

“De facto, trata-se de um pedido de adesão à NATO, o que transforma a Ucrânia num adversário militar potencial da Rússia”, escreveu na sua página do Facebook o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev.

Já o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, exortou Kiev a “reconhecer os rebeldes do Leste como interlocutores legítimos” e a iniciar um diálogo político com eles para encontrar uma “solução” para o conflito através de uma “reforma constitucional”.

Para os próximos dois dias estão previstas novas negociações de paz entre Kiev e os rebeldes em Minsk, destinadas a reforçar o frágil cessar-fogo em vigor no Leste do país.

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