Khorasan, a "hiena" da Al-Qaeda no caos da guerra síria

EUA afirmam que o grupo, desconhecido até agora, está no país para recrutar operacionais para atentados terroristas no Ocidente.

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A maioria dos mísseis de cruzeiro disparados na vaga inaugural da ofensiva visou as bases do Khorasan Brendan SMIALOWSKI/AFP

Khorasan. O nome saiu das sombras para o centro das atenções mediáticas em pouco mais tempo do que os mísseis Tomahawk demoraram a percorrer a distância entre os navios americanos e os esconderijos do grupo, na região de Alepo. Washington descreve-o como uma “célula de veteranos da Al-Qaeda” que estaria a ultimar os planos para um atentado na Europa ou nos Estados Unidos, mas há muitas zonas de sombra na informação disponibilizada.

O Pentágono revelou que o Khorasan – designação antiga do território que engloba parte do que é hoje o Irão e o Afeganistão – foi um alvo prioritário da ofensiva ordenada pelo Presidente Barack Obama. A maioria dos mísseis de cruzeiro disparados na vaga inaugural da ofensiva visou as suas bases, não as do Estado Islâmico (EI).

O Wall Street Journal adianta mesmo que o momento escolhido para atacar os jihadistas em território sírio teve sobretudo que ver com informações de que o grupo, que não terá mais de mil homens, na sua maioria veteranos da Al-Qaeda no Afeganistão, estava já numa fase avançada do planeamento de um atentado. Segundo a CNN, a descoberta terá sido feita há poucos dias, mais ou menos na mesma altura em que começaram a surgir na imprensa fugas de informação sobre esta nova ameaça à segurança norte-americana.

Num artigo datado de dia 13, a agência AP identificava pela primeira vez o grupo, citando responsáveis segundo os quais o Khorasan representava “uma ameaça mais directa e iminente” para os EUA do que o EI.

A avaliação foi confirmada na semana passada pelo “patrão” dos serviços secretos norte-americanos, John Clapper, numa audição no Congresso em que revelou a identidade do suposto líder do grupo: Mushin al-Fadhli, um kuwaitiano de 33 anos que pertencia já ao círculo próximo de Bin Laden aquando do 11 de Setembro. Na última década, especializou-se na angariação de dinheiro e combatentes para os vários “consórcios” da rede e chefiou as células da Al-Qaeda no Irão, orquestrando ataques na Síria e no Iraque.

Em 2013, Fadhli mudou-se para a Síria, sendo acolhido pela Frente al-Nusra, o braço armado da Al-Qaeda no país. Mas as secretas americanas afirmam que, ao contrário do grupo de combatentes, o Khorasan não está interessado na luta contra Assad, mas em recrutar jihadistas ocidentais, detentores de passaportes que lhes permitem iludir a segurança dos aeroportos e protagonizar atentados no regresso aos seus países de origem.

A alimentar a suspeita, informações de que o grupo está a trabalhar com a Al-Qaeda no Iémen no fabrico de explosivos de difícil detecção – suspeita que, em Julho, terá levado Washington a proibir a entrada de telemóveis e computadores sem bateria nos aviões destinados aos EUA. “O Khorasan é como uma hiena, que se apodera das carcaças e sobrevive no caos”, disse à AFP Max Abrahms, especialista em grupos islamistas do Council on Foreign Relations, sobre o ambiente propício encontrado pelo grupo na Síria.

No entanto, nenhum activista sírio diz ter alguma vez ouvido o nome do grupo, assegurando que os alvos atacados em Alepo pertenciam à Frente al-Nusra. “É uma coincidência interessante” que só uma semana antes dos ataques o mundo tenha sido informado desta ameaça, disse à AFP Aron Lund, editor do site Syria in Crisis. Num artigo para o Carnegie Endownment, o analista não descarta a hipótese de que o grupo tenha planos para atacar o Ocidente, mas questiona a informação de que se trata de uma célula autónoma da Al-Nusra. E diz que, ao denunciar a existência de uma “ameaça iminente”, os EUA ganham argumentos para atacar o braço da Al-Qaeda na Síria, permitindo que a oposição moderada reconquiste terreno perdido no Norte do país.

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