Kerry diz que Egipto tem papel central no combate à ideologia do Estado Islâmico

Chefe da diplomacia americana termina no Cairo o périplo pelo Médio Oriente para angariar aliados para a coligação contra jihadistas.

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Kerry encontrou-se com Sissi, Presidente com quem Washington mantém relações difíceis Brendan Smialowski/Reuters

Não é apenas apoio militar que os Estados Unidos esperam dos países árabes na luta contra o Estado Islâmico. Na última etapa do seu périplo pelo Médio Oriente para angariar aliados para a coligação internacional que Washington quer reunir antes de expandir os ataques aéreos contra os jihadistas, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, afirmou que o Egipto tem um papel decisivo a cumprir no combate contra a ideologia dos radicais.

O chefe da diplomacia americana reuniu-se com Abdel Fattah al-Sissi, o Presidente egípcio com quem Washington mantém difíceis relações depois de ter criticado o golpe que reconduziu os militares no poder e a repressão contra a Irmandade Muçulmana, mas que é um dos aliados estratégicos dos norte-americanos na região. No final do encontro, revelou ter tido uma “conversa franca” com o novo homem forte do Egipto sobre a situação dos direitos humanos no país e assegurou que a posição norte-americana nesta matéria não será usada como moeda de troca para garantir o apoio do Cairo aos ataques aéreos contra os jihadistas.

“Enquanto capital intelectual e cultural do mundo muçulmano, o Egipto tem um papel crucial a desempenhar, denunciando publicamente a ideologia que o EI dissemina”, afirmou Kerry aos jornalistas. É no Cairo que se situa a mesquita de Al-Azhar, a instituição religiosa e cultural de referência para o mundo islâmico sunita e que Washington gostaria de ver liderar o combate o fanatismo religioso do Estado Islâmico – no início da semana, o grande imã Ahmed al-Tayeb condenou sem reservas os radicais, a quem apelidou de “criminosos que contaminam o islão”.

A Reuters conta que no encontro de quinta-feira em Jidá, na Arábia Saudita, Kerry pediu aos dez países árabes presentes que convençam os seus líderes religiosos a denunciar sem reservas a actuação e a doutrina do Estado Islâmico, seja nos sermões proferidos nas mesquitas, seja nas intervenções que fazem nas televisões locais.

O Egipto enviou uma representante à reunião de Jidá, onde os participantes se comprometeram a apoiar, incluindo militarmente, a estratégia norte-americana contra o EI – um plano de acção que prevê atacar os jihadistas, tanto no Iraque como na Síria. Contudo, parece cada vez mais assente que o Cairo não participará nas operações militares. Também a Turquia, onde Kerry esteve na véspera, não aceita ceder as suas bases aéreas que Washington gostaria de usar para atacar o EI.

Ainda assim, o chefe da diplomacia norte-americana diz estar “confortável” com as perspectivas de conseguir reunir “uma coligação abrangente de países árabes e europeus” para “enfraquecer e derrotar” os jihadistas. Uma ideia mais clara do papel que cada um poderá desempenhar deverá sair da conferência que o Presidente francês, François Hollande, organiza segunda-feira em Paris e para a qual estão convidados duas dezenas de países. Contudo, a diplomacia francesa avisa que vai ficar no segredo dos corredores “quem ataca o quê e em que momento”.

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