Justiça italiana pede 26 anos de prisão para comandante do Costa Concordia

“Que Deus tenha piedade de Schettino, porque para nós é impossível", afirmou procuradora na conclusão das alegações finais.

Foto
Trinta e duas pessoas morreram quando o navio embateu em rochas submersas e adornou Andreas Solaro/AFP

O Ministério Público italiano pediu uma pena de 26 anos e três meses de prisão para Francesco Schettino, o comandante do Costa Concordia que, depois de não ter evitado a colisão com a costa rochosa da ilha de Giglio, abandonou o navio de cruzeiro e deixou entregues a si milhares de passageiros. Trinta e duas pessoas morreram.

“Esta não é uma pena exagerada”, assegurou a procuradora Maria Navarro, ao concluir as alegações finais do julgamento a decorrer em Grosseto, cidade da Toscânia próxima da pequena ilha onde, na noite de 13 para 14 de Janeiro de 2012, o navio terminou a sua viagem, com mais de 4200 pessoas a bordo. A efectuar um desvio da rota habitual, aproximou-se demasiado de Giglio e o casco embateu em rochas submersas e começou a adornar. Schettino não só demorou a emitir o pedido de socorro e a ordenar a evacuação do navio, como ignorou as leis marítimas e pôs-se a salvo quando centenas de pessoas aguardavam ainda o resgate. Já em terra terá resistido a várias ordens para regressar a bordo e concluir a evacuação.

O comandante “mentiu a toda a gente, à imprensa, ao tribunal, às autoridades marítimas”, sublinhou a procuradora, dizendo não existir qualquer atenuante para o seu comportamento. “Que Deus tenha piedade de Schettino, porque para nós é impossível.”

Alcunhado de “comandante cobarde”, Schettino é o único membro da tripulação do Costa Concórdia no banco dos réus, onde se senta acusado de vários crimes de homicídio (pelos quais o Ministério Público pediu uma pena de 14 anos de prisão), negligência criminosa, abandono de navio e crimes ambientais.

Em tribunal, o comandante tentou desmentir a tese de que foi o único responsável pelo acidente, dizendo ter recebido informações erradas da tripulação sobre a posição do navio, o que fez que só quase em cima das rochas tenha ordenado uma mudança brusca da direcção. “Mais 30 segundos e tudo teria sido evitado”, afirmou, acrescentando “estar disponível para assumir uma parte da culpa, mas apenas uma parte”.

O Ministério Público não se mostrou convencido. Schettino, afirmou o procurador Alessandro Leopizzi, “cometeu um erro enorme”. “Comandava o maior navio da Marinha mercante italiana, mas mal olhava para o radar”, sublinhou. Após o naufrágio,o primeiro-oficial do navio contou aos investigadores que o comandante se esquecera dos óculos na sua cabina e lhe pediu repetidamente para ser ele a verificar as informações no ecrã. Confirmada foi igualmente a presença na ponte de comando de pessoas estranhas à tripulação, incluindo uma mulher com quem o comandante manteria uma relação amorosa.

Propriedade de uma das maiores empresas de cruzeiro da Europa, o Costa Concordia, de 290 metros de comprimento, operava há apenas seis anos quando naufragou. Após mais de um ano adornado junto a Giglio, o navio foi reerguido em Setembro de 2013 e, em Julho do ano seguinte, foi rebocado para o porto de Génova, a fim de ser desmantelado. Só meses depois o corpo da última das 32 vítimas foi localizado no seu interior.

Sugerir correcção
Comentar