Jurada do caso Trayvon Martin convencida de que Zimmerman temia pela vida

Pela segunda noite, houve manifestações em Los Angeles contra veredicto do julgamento em que o vigilante George Zimmerman foi considerado inocente do homicídio do jovem negro

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A polícia de Los Angeles disse que a maior parte das manifestações foi pacífica REUTERS/Jonathan Alcorn

Uma das juradas que absolveu George Zimmerman, o voluntário de uma patrulha de bairro na Florida acusado da morte de Trayvon Martin, disse em entrevista à CNN ter ficado “absolutamente convencida” de que o arguido temia pela vida no momento em que disparou sobre o jovem de 17 anos.

“Penso que George Zimmerman é um homem com bom coração, mas que ficou tão perturbado com o vandalismo nas ruas que no seu desejo de apanhar os responsáveis acabou por ultrapassar os limites”, considerou a jurada, a primeira a divulgar o pensamento por trás da deliberação para a sentença, emitida durante o fim-de-semana.

Trayvon Martin, que usava um casaco com capuz que lhe escondia a cara, foi atingido a tiro por George Zimmerman, que vigiava o bairro de Sanford, na Florida, e interpelou o jovem por considerar o seu comportamento suspeito. Não porqueTrayvon era negro, precisou a jurada, mas porque agia de forma errática: “Qualquer pessoa que veja um indivíduo a andar para cima e para baixo de uma rua, a parar e virar-se e ficar a olhar, acha isso suspeito”.

A mulher, identificada apenas pelo seu número B-37, disse que Zimmerman avaliou mal a situação e não usou de “bom senso” ao sair do carro depois de ter alertado os serviços de emergência para a presença de um indivíduo suspeito. “Ele devia ter esperado no carro que a polícia chegasse”, considerou a jurada, acrescentando que depois disso a situação fugiu do seu controlo.

“O que aconteceu foi uma tragédia que ambos poderiam ter evitado. Os dois foram responsáveis pela situação em que se meteram e da qual podiam ter escapado. Mas não foi isso que aconteceu”, lamentou, com a voz embargada.

“Acredito que George se excedeu e que Trayvon decidiu que não se ia deixar intimidar. E penso que ficou furioso e o atacou”, referiu, lembrando as instruções do tribunal para a decisão do júri: “Zimmerman tinha direito a defender-se. Se acreditasse que corria risco de vida ou de graves danos corporais, tinha o direito à legítima defesa”.

A jurada revelou que numa primeira ronda de votações as opiniões estavam divididas: das seis mulheres que compunham o júri, houve três que consideraram George Zimmerman culpado de homicídio involuntário e outras três que o consideraram inocente. A entrevistada da CNN foi uma das que votou pela absolvição logo no arranque das deliberações.

Segundo a sua descrição, as mulheres discutiram “horas e horas”, até porque “havia duas que queriam declará-lo culpado de qualquer coisa. Mas depois de deliberarmos sobre a lei e lermos tudo uma e outra e outra vez, percebemos que não havia outra conclusão possível”. 

"É muito triste pensar que houve uma pessoa que perdeu a vida e não podemos fazer nada em relação a isso", acrescentou.

Racismo não contou
O crime motivou uma onda de protestos nos Estados Unidos pelo facto de Trayvon ser um jovem negro e Zimmerman um homem branco – que só seis semanas depois do disparo fatal foi detido pela polícia. O anúncio da sua absolvição gerou um novo coro de protestos e acusações dirigidas ao funcionamento do sistema judicial.

Em Los Angeles, 13 pessoas foram detidas na terceira noite consecutiva de manifestações e vigílias - cerca de 150 manifestantes envolveram-se em actos de vandalismo, diz o Departamento de Polícia da cidade californiana, citado pelo jornal Los Angeles Times.

que na sua maioria decorreram “de forma ordeira e pacífica”, disse a polícia. As marchas e concentrações multiplicaram-se pelo país, com milhares de pessoas a pressionar o Departamento de Justiça iniciar um outro o processo contra George Zimmerman, desta feita por violação dos direitos cívicos de Trayvon Martin, que no seu entendimento foi vítima de discriminação e racismo.

Nas suas declarações à CNN, a jurada B-37 garantiu que a questão racial “não foi sequer discutida” na sala de audiências ou durante as deliberações do júri. “Nenhuma de nós acreditou que a cor da pele tivesse desempenhado qualquer papel nesta tragédia.”

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