Junta militar tailandesa detém 150 líderes e activistas políticos

A ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra foi levada para um edifício militar não identificado.

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Reuters

A Junta militar no poder na Tailândia desde o golpe de Estado de quinta-feira deteve 155 líderes e activistas políticos e proibiu-os de sairam do país. Entre os detidos está a ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra.

Yingluck tinha recebido ordem para se apresentar na base da Força Aérea, local onde chegou num carro à prova de bala e protegida por um grupo de seguranças, relata o jornal britânico The Guardian. Trinta minutos depois, foi levada para um quartel que não foi identificado, diz a Associated Press.

São poucas as informações sobre o que se estará a passar com os detidos uma vez que os militares decretaram a censura. Os jornais em papel estão proibidos de dar notícias de teor político e o sinal das estações de televisão tailandesas e estrangeiras foi fechado.

Alguns dos políticos e activistas chamados pelos militares saíram, pouco depois, da base da Força Aérea em Banguecoque, mas outros ficaram detidos. Entre os convocados estavam o primeiro-ministro interino deposto, Niwatthamrong Boonsongpaisan (ocupou o lugar depois de o Tribunal Constitucional ter detiruido Yingluck, no início de Maio) e o antigo ministro do Trabalho, Chalerm Yubamrung.

Os embaixadores dos países estrangeiros foram convidados a reunirem, esta sexta-feira, com a Junta Militar que é chefiada pelo general Prayuth Chan-ocha.

A detenção de tantos líderes políticos é significativa. Como é reveladora das intenções dos golpistas a prisão de Yingluck Shinawatra e de outros membros da sua família. O líder do clã é Thaksin, empresário das comunicações e antigo primeiro-ministro que está exilado para não cumprir a pena de prisão a que foi condenado por abuso de poder. É considerado um figura de risco pela oposição e pela elite intelectual e militar próxima do velho rei Bhumibol Adulyadej - Thaksin, um populista, tem uma excelente relação com o herdeiro, Maha Vajiralongkorn, de 61 anos, que é uma figura pouco popular na Tailândia, um país cuja coesão depende em larga escala da unidade que a monarquia lhe confere.

Apesar de ter sido deposto há oito anos, Thaksin é ainda a figura no centro da crise política - há quem o acuse de ter governado através da irmã. Nos violentos protestos que começaram há seis meses, contra os Shinawatra, morreram 28 pessoas e 600 ficaram feridas.

A Junta Militar justificou o golpe com a necessidade de "repôr a normalidade" e encontrar uma solução para o país. Ontem, diz o Guardian, circulavam notícias impossíveis de serem confirmadas dizendo que os militares estavam a realizar operações no norte e nordeste do país à procura dos líderes dos "camisas vermelhas" (pró-Shinawatra). O site noticioso Khaosod avançava que o exército estava a posicionar-se na fonteira norte com o Laos de forma a impedir a fuga dos líderes.

O general  Prayuth é um opositor declarado de Thaksin, tendo participado no golpe que o depôs em 2006 - o golpe, dizem os analistas, ajudou a mobilizar a frente de apoio ao primeiro-ministro, a Frente Democrática Unida, o que gerou confrontos nas ruas entre "camisas vermelhos" e "camisas amarelas" (a cor da monarquia) em 2010 - morreram cem pessoas. 

Os analistas tailandeses escreveram, esta sexta-feira, que desta vez o golpe militar também não deve ajudar a solucionar a crise política. "Os generais da linha dura estão aos comandos e adivinhamos um mau fim", lia-se num relatório do think tank Siam Intelligence, citado pelo Guardian. "O novo governo da Junta vai dirigir o país durante um ano ou dois e o pior cenário possível é uma guerra civil crónica".

 

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