Juncker conseguiu uma Comissão política e inteligente

Portugal fica com uma pasta relevante.

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Jean-Claude Juncker provou toda a sua capacidade política e a sua longa experiência na forma como organizou a nova Comissão Europeia e distribuiu os seus pelouros. Deu aos “pequenos” quase todas as vice-presidências (serão sete, incluindo a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini) e deu aos três “grandes” as pastas que detêm mais poder, não esquecendo que é preciso manter o Reino Unido “dentro” e a França convertida às reformas que garantem a sustentabilidade do euro.

Pierre Moscovici, o antigo ministro das Finanças da França, depois de forte oposição da Alemanha, ficou mesmo com a pasta que vai supervisionar a união monetária e a economia. Será interessante ver como um francês vai lidar com a “rebeldia” da França para cumprir as metas do défice ou acelerar as reformas.

Juncker deu ao Reino Unido o pelouro dos mercados financeiros, incluindo a City, precisamente aquele que mais dificuldades coloca a Londres, que tem na City a sua maior indústria. A mensagem: queremos o Reino Unido dentro da União Europeia. Finalmente, deu à Alemanha outra pasta económica importante, que é a da economia digital.

A ironia está em que serão comissários de países como a Estónia, a Eslovénia ou a Finlândia, que com as suas vice-presidências, deverão “coordenar” as pastas sectoriais que os “grandes” comandam. O caso mais paradigmático é, talvez, o da Finlândia, que enviou para Bruxelas o seu ex-primeiro-ministro Jyrki Katainen, um “ortodoxo” da austeridade que será um dos vice-presidentes para as áreas do Emprego, Crescimento, Investimento e Competitividade, que acompanhará o trabalho de Pierre Moscovici.

Aliás, são poucas as escolhas de Juncker que não têm um significado político. Por exemplo, entrega à Suécia (e à antiga comissária, que se mantém) o pelouro do Comércio, fundamental na negociação da parceria transatlântica e que é oriunda de um país que defende as vantagens do mercado livre.

Portugal acabou por ficar bastante bem na fotografia. Carlos Moedas batia-se contra um número raro de primeiros-ministros, vice-primeiros-ministros, ministros e eleitos para o Parlamento Europeu. A pasta da Ciência e da Inovação, com os 80 mil milhões que lhe estão atribuídos pelo novo orçamento plurianual (até 2020), terá necessariamente uma importância grande para a economia europeia, que só pode ganhar competitividade por via dos seus avanços tecnológicos.

Entre os vice-presidentes, destaque para Frans Timmermans, actual ministro dos Negócios Estrangeiros da Holanda, cujo Governo, tal como o britânico (em menor escala), quer ver repatriadas para os países-membros políticas que não justificam sair do nível nacional, em nome do conceito da subsidiariedade. Timmermans terá justamente uma pasta dedicada a esse esforço que a Europa terá de fazer. Juncker dá-lhe importância ao nomeá-lo o seu “primeiro” vice-presidente e anunciá-lo como o seu braço direito. De algum modo, a ideia de criar uma Comissão com uma estrutura diferente, de forma a dar-lhe mais operacionalidade e eficácia, que correria o risco de criar comissários de primeira e de segunda, foi contornada com grande habilidade por Juncker, ao escolher os “pequenos” para vice-presidentes coordenadores e os “grandes” para executores. Ninguém dirá que o primeiro-ministro estónio é tratado como um júnior, se tem uma das principais vice-presidências, ou que Jonathan Hill não deixa de ser um sénior, pela pasta que vai ocupar.

Ainda é preciso algum tempo para digerir todas as escolhas e alterações da estrutura da Comissão para se ter a ideia geral, mas o novo presidente da Comissão desta vez não desiludiu. Soube distinguir entre retórica política e realidade, soube determinar os problemas de cada país e soube premiar aqueles que se esforçaram por lhe enviar, não apenas comissárias (precisava de nove), mas também políticos altamente colocados e experientes. 

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