Ex-tesoureiro do PP espanhol depôs como acusado em investigação anti-corrupção

Luis Bárcenas nega autoria dos cadernos que contabilidade que comprometem o PP. Juízes querem provar existência de contabilidade paralela no partido popular espanhol

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Luis Bárcenas à entrada do departamento anti-corrupção Susana Vera/REUTERS

O ex-tesoureiro do Partido Popular espanhol (PP) Luis Bárcenas foi ouvido esta quarta-feira pelo departamento anti-corrupção do Ministério Público, que abriu um inquérito sobre as suspeitas de que houve, durante pelo menos 18 anos, uma contabilidade paralela naquele partido, financiada sobretudo por empresas de construção civil e da qual beneficiou a cúpula dirigente desta formação de direita.

Bárcenas, que prestou declarações durante mais de duas horas,  é suspeito de ser o autor do caderno de 14 páginas manuscritas com entradas e saídas de dinheiro no PP desde 1990 a 2008, usado pelo jornal El País para revelar a história que fez o PP, hoje no governo abanar nos seus alicerces.

Ele garante que não saíram da sua caneta: “São uma montagem feita por alguém com acesso à contabilidade”, afirmou à televisão 13tv na segunda-feira. “Vou fazer declarações no mesmo sentido, sem tirar uma vírgula”, disse Bárcenas à agência Europa Press, antes de se apresentar aos juízes anti-corrupção. À saída entrou num táxi sem prestar declarações, apupado por populares, que lhe chamavam “ladrão” e reclamavam um “envelope” com dinheiro.

Também Alvaro Lapuerta, outro ex-tesoureiro do PP, hoje com 85 anos, que foi superior hierárquico de Bárcenas durante 15 anos, irá depor esta quarta-feira.

Bárcenas já era investigado desde 2009 no âmbito do caso Gürtel, um escândalo de fraude fiscal, financiamento ilegal e corrupção, que envolveu muitos dirigentes do PP e empresas. Agora, o departamento anti-corrupção quer que ele responda sobre a alegada contabilidade paralela do PP — e a investigação sobre a existência de uma possível “caixa B” do Partido Popular já tinha sido aberta antes de os jornais terem começado a publicar artigos sobre os dinheiros ocultos do PP.

As declarações desta quarta-feira e o caderno de contabilidade entregue pelo El País às autoridades serão cruzados com duas bases de dados oficiais: os impostos pagos pelo PP desde 2000 e as contas do partido apresentadas ao Tribunal de Contas desde o mesmo ano, pelo menos.

Os juízes anti-corrupção preparam-se também para chamar a depor 15 empresários que constam na lista de Bárcenas como contribuintes do PP, a maioria deles proprietários de empresas de construção civil, e que ofereceram somas superiores ao que é legal oferecer a partidos políticos. Os empresários (e empresas) mencionados negam ter dado essas somas, mas alguns deles, como Alfonso García Pozuelo, Pablo Crespo e Sedesa são já citados em vários ramos do processo Gürtel.

Os investigadores têm pressa: esperam concluir se há matéria para abrir um novo processo até à semana da Páscoa, diz o El País.
 
 
 
 

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