José Mujica, o Presidente do Uruguai, levou a sua luta anti-tabaco até à Casa Branca

País enfrenta um processo da tabaqueira Philip Morris por causa da sua política anti-tabágica.

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José Mujica e Barack Obama na Casa Branca Jonathan Ernst/REUTERS

José Mujica, o Presidente do Uruguai, pela modéstia da forma como vive e pelas políticas do seu país, encontrou-se nesta segunda-feira com Barack Obama na Casa Branca. Durante os 12 minutos em que os dois governantes falaram em público, Mujica evocou o combate que o Uruguai está a travar com a tabaqueira Philip Morris, porque o país impôs leis mais severas para tentar controlar o consumo do tabaco.

“É um combate pela vida. Oito milhões de pessoas morrem todos os anos, em todo o mundo, por causa do tabaco”, disse o antigo guerrilheiro do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, uma guerrilha urbana marxista-leninista das décadas de 1960 e 1970, e que foi prisioneiro político durante os anos da ditadura, entre 1973 e 1985. Agora, quando se fala de Mujica, normalmente é para salientar que não vive num palácio presidencial mas sim na sua quinta, numa casa pobre, e que em vez de ser conduzido numa limusina, conduz ele próprio um velho Volkswagen carocha.

Em tempos de austeridade, o Uruguai tornou-se a nação da moda – a revista The Economist designou-o o país do ano em 2013 – com políticas progressistas sobre o género e sobre a despenalização das drogas leves.

Na conversa em frente aos jornalistas com o Presidente dos Estados Unidos, Mujica não falou da despenalização da marijuana – um tema que interessa a ambos. Mujica acaba de assinar um decreto que permitirá a todos os uruguaios comprar até 40 gramas de marijuana por mês, a um preço que andará entre 0,85 cêntimos e 1 dólar por grama, baixo se comparado com o mercado negro. Quanto aos EUA, alguns estados, como o Ohio, liberalizaram recentemente a venda de marijuana, gerando um novo sector económico com crescimento acelerado.

Mas naqueles minutos antes das conversações a dois, o Presidente Mujica preferiu dar a conhecer o processo que a tabaqueira suíço-americana moveu contra o Uruguai em 2010.

O que irritou a Philip Morris foi o Uruguai ter proibido aos fabricantes de tabaco venderem várias variedades de uma mesma marca e os ter obrigado a aumentar em 80% o tamanho das mensagens de saúde relacionadas com o consumo de tabaco. A multinacional considera que estas medidas violam o tratado de investimento que liga a Suíça e o Uruguai e exige uma compensação de 25 milhões de dólares ao Governo uruguaio.

“É uma tarefa muito difícil”, afirmou Mujica, um velho fumador e prisioneiro político durante a ditadura (1973-1985). “Devemos combater os interesses demasiado poderosos. Os Estados não se devem envolver em litígios civis, mas este é um combate pela vida”, declarou. Obama, que definiu o Presidente Mujica como “um líder em direitos humanos”, assentia, relata o El País.

O Uruguai, com 3,3 milhões de habitantes, tem um Produto Interno Bruto de 50 mil milhões de dólares, menor que o volume de negócios da Phillip Morris (77 mil milhões de dólares em 2012).

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