Jordânia ainda disposta a trocar bombista suicida por piloto refém dos jihadistas

Amã garante que fará "o que for preciso" para salvar a vida do tenente Moaz al-Kasasbeh, um dia depois de o Estado Islamico divulgarem video com a morte do jornalista japonês Kenji Goto.

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Notícia da morte do jornalista nos jornais japonees Yoshikazu TSUNO/AFP
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Safi Yousef, pai do piloto jordano Moaz al-Kasaesbeh Muhammad Hamed/REUTERS

A Jordânia está disposta a fazer o que for preciso para recuperar o seu piloto Moaz al-Kasasbeh, capturado e ameaçado de morte por militantes do Estado Islâmico, incluindo avançar com a troca proposta pelos jihadistas, que disseram entregar o refém com vida mediante a libertação da militante iraquiana Sajida al-Rishawi, a cumprir pena em Amã.

“Ainda estamos disponíveis para entregar a condenada Sajida al-Rishawi em troca pelo nosso filho e nosso herói. Faremos tudo o que for preciso para salvar a sua vida e assegurar o seu regresso seguro a casa”, garantiu o porta-voz do Governo da Jordânia, Mohammad al-Momani, em declarações à Reuters. Mas na resposta ao ultimato dos jihadistas, Amã impôs como condição uma “prova de vida” para garantir a libertação e a troca – prova essa que os extremistas até agora não produziram, alimentando a suspeita de que o piloto jordano poderá estar morto.

O tenente Moaz al-Kasasbeh, de 26 anos, participava na missão aérea contra o Estado Islâmico, em apoio à aviação dos Estados Unidos, quando o seu jacto F-16 foi atingido e despenhou, em território sírio controlado pelos extremistas, a 24 de Dezembro. Desde então, as informações sobre ele são parcas: o EI divulgou algumas fotografias humilhantes, mas nunca mostrou o piloto em vídeo.

A libertação de Sajida al-Rishawi, condenada à morte pelo seu envolvimento num ataque à bomba da Al-Qaeda em 2005 num hotel de Amã que fez 60 mortos, já tinha sido usada como moeda de troca pelo Estado Islâmico na sua “negociação” com o Governo do Japão. Pela sua liberdade, os militantes supostamente entregariam o jornalista japonês Kenji Goto, raptado na Síria em Outubro de 2014 e exibido juntamente com um compatriota, Haruna Yukawa, que foi morto quando Tóquio recusou pagar um resgate de 200 milhões de dólares aos jihadistas.

Na noite de sábado, os radicais publicaram um novo vídeo macabro que mais uma vez provava como são implacáveis nas suas ameaças. Ultrapassado o prazo dado para a troca, os militantes decapitaram o jornalista, de 47 anos, e censuraram o Japão pela sua “decisão precipitada de se envolver numa guerra que será incapaz de vencer”, e que (prometeram) se tornará “um pesadelo” . Notoriamente abatido, o primeiro-ministro japonês respondeu que jamais esqueceria ou perdoaria o “desprezível e desumano acto de terrorismo” perpetrado contra Kenji Goto. A mesma mistura de choque e pesar de Abe sentia-se por todo o país.

Os Estados Unidos e Israel apresentaram condolências e manifestaram a sua solidariedade com o Japão, condenando mais um “assassínio deplorável”. Da Jordânia também vieram palavras de apoio ao Governo de Tóquio, e a explicação de que os militantes rejeitaram todos os esforços encetados pelo reino para concretizar a troca que previa a libertação de Kenji Goto (e também do tenente Moaz al-Kasasbeh). Segundo a agência estatal Petra, o rei Abdullah recebeu um telefonema de Shinzo Abe, que agradeceu as iniciativas de Amã junto dos islamistas.

Fontes jordanas citadas pela Associated Press deram conta da existência de “conversações indirectas” com os militantes, intermediadas por líderes religiosos e tribais no Iraque. Como destacava o The New York Times, a estrutura tribal tem enorme influência na política jordana e na organização militar do país. O tenente al-Kasasbeh integra a tribo Bararsheh, do sul do país: a tribo é apoiante o Governo do rei Abdullah, mas na região (predominantemente sunita) existe uma certa simpatia pela causa do EI, com vários jovens a juntarem-se às fileiras jihadistas. “Se alguma coisa acontecer a Moaz, isso muda num minuto”, estimou um dos dirigentes de Karak, a cidade natal do piloto.

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