Jordânia exige provas de que o seu piloto permanece vivo

Amã admite libertar uma iraquiana condenada por terrorismo em troca de Maaz al-Kassasbeh, o único militar da coligação internacional que combate o Estado Islâmico feito refém na Síria.

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A última imagem dos reféns divulgada pelo Estado Islâmico Kazuhiro Nogi/AFP

O Governo jordano confirmou nesta quarta-feira que libertará uma detida iraquiana em troca do piloto capturado na Síria pelo autoproclamado Estado Islâmico – na gravação divulgada na véspera, o grupo ameaçava matar o piloto jordano e um jornalista japonês caso a suspeita de terrorismo Sajida al-Rishawi não fosse libertada em 24 horas.

“Pedimos provas de que o herói Maaz está vivo e em segurança, mas ainda não recebemos nada”, escreveu no Twitter um pouco antes das 15h (o ultimato terminava às 14h) o ministro dos Negócios Estrangeiros de Amã, Nasser Joudeh. “A Jordânia está pronta a libertar a prisioneira desde que o piloto seja libertado são e salvo”, disse à televisão do Estado o porta-voz do Governo, Mohammed al-Momeni. “Desde o início, a posição da Jordânia tem sido assegurar a segurança do nosso filho, o piloto Maaz al-Kassasbeh”, disse ainda, sem se referir ao japonês Kenji Goto.

Durante a manhã, responsáveis políticos e militares citados pela AFP notavam que, na gravação da véspera, os jihadistas reclamavam a libertação da iraquiana em troca do refém japonês sem mencionarem a libertação do piloto. Mas ameaçavam matar os dois.

Rishawi foi condenada à morte por cumplicidade nos atentados que mataram 60 pessoas em hotéis de Amã, em Novembro de 2005. Os explosivos que a iraquiana levava colados ao corpo não chegaram a rebentar. Depois de detida, Rishawi admitiu pertencer à Al-Qaeda no Iraque, grupo que acabou por dar origem ao actual Estado Islâmico.

Kassasbeh foi capturado a 24 de Dezembro, depois de o caça que pilotava se ter despenhado na Síria, durante um raide contra os radicais. A Jordânia participa na coligação internacional antijihadista criada pelos Estados Unidos no Verão passado.

O jornalista independente Kenji Goto terá sido feito prisioneiro no fim de Outubro. Num vídeo de 20 de Janeiro, o grupo radical ameaça matar Goto e outro japonês, o empresário Haruna Yukawa, se não recebesse um resgate de quase 180 milhões de euros. No sábado, o Estado Islâmico anunciou ter executado Yukawa e exigiu, pela primeira vez, a libertação da prisioneira iraquiana.

Em Tóquio, o primeiro-ministro, Shinzo Abe, descreveu as ameaças do Estado Islâmico como “ignóbeis”. “Senhor primeiro-ministro, suplico-lhe, salve a vida de Kenji, continue a negociar com o Governo da Jordânia”, pediu a mãe do jornalista, Junko Ishido.

As novas exigências surgiram numa gravação em que uma foto de Goto, segurando um retrato do piloto jordano, é acompanhada da voz do japonês, dando conta das ameaças dos raptores.

Para além da execução de milhares de sírios e iraquianos, o Estado Islâmico tem feito estrangeiros reféns e conseguido muitas vezes receber resgates dos seus países de origem. Estados Unidos e Reino Unido rejeitam qualquer negociação: para além do engenheiro russo Sergei Gorbunov, que terá sido o primeiro a ser assassinado, para mostrar aos outros reféns o que lhes aconteceria se os seus governos não pagassem, foram executados os dois jornalistas norte-americanos James Foley e Steven Sotloff,  os trabalhadores humanitários britânicos Alan Henning e David Haines, assim como Peter Kassig, o ex-militar dos EUA que fundara uma ONG. As suas mortes foram filmadas e divulgadas na Internet.
 

   

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