John Kerry desvaloriza anúncio de colonatos israelitas

Estados Unidos dizem que acção de Israel era “de algum modo esperada”.

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Israel vai construir mais 1200 casas em colonatos (das quais 793 em Jerusalém Oriental) MENAHEM KAHANA/AFP

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, tentou desvalorizar a polémica em torno do anúncio de construção de colonatos judaicos em território ocupado feito por Israel em vésperas de nova ronda de negociação com os palestinianos.

O secretário de Estado disse que a acção era “de algum modo esperada” embora contrapusesse logo que os EUA consideram os colonatos “ilegítimos”.

Pedindo aos palestinianos para não “reagirem mal” ao anúncio de mais 1200 casas em colonatos (das quais 793 em Jerusalém Oriental), Kerry acrescentou que tudo isto mostra “a importância de chegar à mesa de negociações rapidamente”. “Penso que as questões que dizem respeito aos colonatos serão mais bem resolvidas quando se solucionarem os problemas da segurança e fronteiras”, disse. Esta era a questão que os palestinianos queriam ver discutida primeiro, Israel defendia uma discussão global.

Os negociadores palestinianos acusaram entretanto Israel de tentar sabotar as negociações – as conversações anteriores, há três anos, tinham falhado justamente por causa da recusa de Israel em prolongar o congelamento da construção nos colonatos.

Israel conta, no entanto, que a iminente libertação de 26 presos palestinianos, todos a cumprir pena pela morte de israelitas, seja suficiente como gesto de boa vontade para o início das negociações, que serão retomadas esta quarta-feira com as primeiras discussões sobre questões de substância – no anterior encontro, há pouco mais de duas semanas em Washington, foram discutidas questões do formato das conversações.

Kerry empenhou-se pessoalmente no reinício das negociações e conseguiu o que ninguém esperava - juntar os dois lados à mesa. Mas os primeiros passos das discussões mostram a grande dificuldade do processo.

A reacção do próprio executivo israelita às duas medidas – construção nos colonatos e libertação dos prisioneiros – mostra bem a posição delicada do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Um dos seus ministros, Naftali Bennett, participou nos protestos contra a libertação dos prisioneiros. Ontem, depois do anúncio das construções, outro ministro, Yair Lapid, disse que o anúncio era "um erro" e um "desafio desnecessário aos americanos", ao "colocar paus nas rodas da paz - não é necessário e não ajuda o processo". Bennett e Lapid não são uns ministros quaisquer: são os líderes dos partidos da coligação de Netanyahu. A saída de qualquer um implicaria a queda do Governo.

Por outro lado, Mahmoud Abbas é desafiado por um campo interno anti-negociações e sofre de um problema de falta de legitimidade: o seu mandato já expirou mas mantém-se na presidência da Autoridade Palestiniana pela impossibilidade de realizar eleições nos territórios palestinianos.

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