Narcotraficante mexicano é o novo Inimigo Público n.º1 de Chicago

Joaquim “El Chapo” Guzmán herdou um título que esteve 83 anos por atribuir e que foi criado de propósito para identificar Al Capone.

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Joaquim “El Chapo” Guzmán AFP

Joaquim “El Chapo” Guzmán tem muitos títulos — é um dos homens mais ricos do mundo, um dos mais influentes, um dos mais perigosos — e agora concederam-lhe mais um. Estava por atribuir há 83 anos: Inimigo Público n.º1 da América. O último a detê-lo foi Al Capone que, dizem os polícias, era um “amador” comparado com Guzmán.

Desde Alphonsus Gabriel Capone, escreveu na sua página da Internet a Comissão contra o Crime de Chicago, que não aparecia um criminoso “digno desta distinção”. A actividade de narcotraficante de Joaquim Guzmán — conhecido nos Estados Unidos da América por Shorty (baixote) e no México por El Chapo (significa o mesmo) —, “provocou uma carnificina e uma destruição social maiores do que Al Capone”, prossegue o comunicado que recupera o título de Inimigo Público n.º1, criado aliás de propósito para o mafioso de origem italiana que controlou o tráfico de bebidas alcoólicas naquela cidade durante a Lei Seca decretada pelo Governo Federal (proibição de produção, venda e consumo de álcool).

Foi a seguir ao Massacre de São Valentim que lhe deram o título. No dia 14 de Fevereiro de 1929, dois homens de Capone (vestidos de polícias) alinharam sete membros de um grupo rival numa garagem e assassinaram-nos com rajadas de metralhadora. Um deles, Frank Gusenberg, foi encontrado com vida e, enquanto agonizava, respondeu à pergunta “Quem te fez isto?” com duas frases simples: “Não falo. Ninguém disparou contra mim”. Tiraram-lhe 14 balas do corpo.

Guzmán, não hesitam em dizer as autoridades de Chicago, “comeria Capone vivo”, se fossem contemporâneos e rivais. “Sim, Guzmán é o novo Al Capone de Chicago. A sua capacidade de corromper [polícias] e escapar, e os seus rendimentos, tornaram-o mais poderoso do que o italiano e o seu gangue”, disse em comunicado Jack Riley, o agente especial da agência anti-droga em Chicago responsável pelo Caso Guzmán.

O objectivo, explicava Riley, é capturar este homem e julgá-lo pelos “crimes horrendos” que cometeu. Desde 2009 que este mexicano de 55 anos é um criminosos procurado nos EUA, em especial em Chicago, que transformou na cidade número dois do seu império de droga (o maior do mundo, dizem as autoridades americanas). Entre 1990 e 2008, dizem os registos divulgados pela agência espanhola Efe, introduziu em Chicago 200 mil toneladas de cocaína. A cidade do estado do Illinois é, além de um centro de consumo, uma plataforma para Guzmán fazer circular a droga para outras zonas do país.

A droga (marijuana, cocaína, heroína, matanfetaminas) sai do México e chega a Chicago através de uma rota de túneis secretos, camiões, barcos e aviões. Pelo caminho do narcotráfico, ficam subornos e, sobretudo, muitos mortos.

O cerco aperta-se em Chicago
As autoridades de Chigago, que estão a trabalhar com a agência federal anti-droga, estão a apertar o cerco a Guzmán. Já prenderam alguns dos seus homens, entre eles familiares. Mas El Chapo, esse, continua em parte incerta desde que em 2001 humilhou o Governo mexicano, era Presidente Vicente Fox, ao fugir de uma prisão de alta segurança de Jalico escondido numa carrinha de roupa suja.

Joaquim Guzmán começou a subir na hierarquia do narcotráfico na década de 1980, quando entrou para o Cartel de Miguel Ángel Gallardo, El Padriño. Em 1989 Gallardo foi preso e a organização, que mantinha coesa, fraccionou-se. Surgiram, então, vários cartéis. Guzmán instalou-se em Culiacán e fundou a Aliança de Sangue, hoje mais conhecida por Cartel de Sinaloa. Os irmãos Félix sediaram-se na Baja California com o seu Cartel de Tijuana. A rivalidade entre os dois grupos fez correr sangue muito depressa e só no final do ano passado, e de acordo com notícias na imprensa mexicana, abrandou com a supremacia de Sinaloa sobre Tijuana. Ciudad Juaréz, na fronteira com os Estados Unidos, foi o palco mais visível da rivalidade sangrenta. Preso que estava Osiel Cárdenas, do cartel do Golfo, e com os irmãos Félix relativamente controlados, Guzmán tornou-se o rei do narcotráfico — ganhar o título implicou o assassínio de um filho e de vários familiares por rivais.

Nos últimos meses, a polícia de Chicago anunciou progressos. Apreendeu drogas, deteve homens e um deles pode ser o chefe das operações em Durango, um dos centros de operações de Guzmán. “Ele sabe que pessoas que lhe são muito próximas estão a ser presas e deve estar preocupado”, disse a especialista em narcotráfico da Brookings Institution, Vanda Felbab-Brown, citada pela Reuters. “O nó aperta-se á volta dele.”

Os Estados Unidos oferecem cinco milhões de dólares pela captura de El Chapo. Mas se nem Frank Gusenberg, a morrer, se atreveu a denunciar, quem terá coragem para desafiar Shorty Guzmán? Como disse J.R. Davis, presidente da Comissão contra o Crime de Chicago, “comparado com ele, Capone era um amador”.

Notícia corrigida com o correcto Presidente mexicano em 2001, que era Vicente Fox, e não Felipe Calderón

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