Jihadistas espalham o terror e fascinam jovens em busca de identidade

O que leva alguém a juntar-se a um grupo de extremistas como o Estado Islâmico? Os especialistas identificam vários motivos.

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Esta não é a primeira vez que o Estado Islâmico usa crianças em vídeos de propaganda Reuters/Arquivo

O que leva um jovem europeu a juntar-se a um grupo de combatentes islâmicos radicais, que não hesitam em usar uma violência saída dos tempos mais negros da história da humanidade, como decapitações e crucificações, em nome de uma religião, como o Estado Islâmico (EI), que decapitou o jornalista James Foley? Dificuldade em encontrar a sua identidade e a promessa de poder viver uma vida de herói, num ambiente em que as regras estão altamente definidas, dizem especialistas no estudo da radicalização e do contra-terrorismo.

O Reino Unido ficou chocado porque o homem de negro que decapitou James Foley tinha sotaque britânico. Mas nos últimos dois anos surgiram muitos exemplos de jovens britânicos que partiram para a Síria – e agora para o Iraque – para combater numa peculiar forma de guerra santa e colocam online testemunhos da sua vida.

Abdel-Majed Abdel Bary, natural do Oeste de Londres, publicou no Twitter uma foto mórbida em que posava com uma cabeça cortada. Em legenda, dizia: “Momento de pausa com um meu amigo, ou que o restava dele”.

As redes sociais são uma forma de eleição de recrutamento do Estado Islâmico. São um bom local para cativar pessoas “com dificuldades em forjar uma identidade, em especial numa sociedade globalizada, onde as identidades estão baralhadas”, disse à AFP a investigadora Erin Marie Saltman, especialista em contra-terrorismo no think tank Qulliam. “Há pessoas que precisam de ser enquadradas, e por isso são presas vulneráveis destes grupos que prometem que poderão morrer como mártires ou tornar-se uma espécie de super-heróis que salvarão o mundo.”

Isso terá acontecido a 400 ou 500 britânicos nos últimos dois anos, mas entre os mais de 50 mil combatentes que o Observatório Sírio dos Direitos do Homem estima que o Estado Islâmico tem em acção tanto na Síria como no Iraque, 20 mil serão estrangeiros. Muitos são árabes, vindos dos países do Golfo, mas outros vêm da Tchetchénia, da Europa e até mesmo da China.

Só no Iraque, calcula Ahmad al-Sharifi, professor de Ciência Política na Universidade de Bagdad, o EI terá entre 8000 e 10.000 militantes, 60% dos quais iraquianos. Muitos juntam-se a eles através das redes sociais, por este desejo de uma vida nova, mas outros fazem-no por medo – ou por interesse nos chorudos salários que lhes propõem.

As fontes de financiamento são variadas: o ministro alemão da Ajuda ao Desenvolvimento, Gerd Müller, acusou directamente o Qatar de apoiar o EI. Mas Romain Caillet, especialista em movimentos islamistas, considera que as monarquias e ricas famílias do Golfo Pérsico não contribuirão para mais de 5% do orçamento destes jihadistas. A maior parte do dinheiro que obtêm, diz, é através de autofinanciamento: extorsão (impostos e taxas impostas às populações locais, que já faziam com que antes da tomada de Mossul recebessem 100 milhões de dólares anuais), contrabando de petróleo e de peças arqueológicas e resgates em troca de reféns ocidentais raptados. Após a tomada de Mossul, ter-se-ão ainda poderado das reservas dos bancos da cidade (cerca de 400 milhões de dólares), bem como de 250 mil dólares que se encontravam nos cofres do Conselho Provincial.

“Há um grande número de gangsters e de criminosos que se radicalizaram e converteram [ao Islão] na prisão”. Mas também há “membros da comunidade muçulmana que se sentem marcados pelos grandes acontecimentos mundiais”, afirma, no entanto, Afzal Ashraf, especialista em ideologia terrorista no instituto de investigação de defesa e segurança RUSI, em Londres.

Mas há quem procure a guerra por se empenhar numa causa. “Na Guerra Civil de Espanha (1936-1939), jovens poetas como Laurie Lee, ou Ernest Hemingway, sentiam-se oprimidos. É possível fazer um paralelismo com os muçulmanos que se sentem oprimidos pelos governos ocidentais”, sublinha Ashraf.

A ideia dos que dão o grande passo rumo ao extremismo é “estar na vanguarda do conflito”, explica Shiraz Maher, do Centro Internacional de Estados sobre a Radicalização, do King's College, em Londres. No entanto, quando chegam à Síria ou ao Iraque, o EI “não confia neles, até porque muitos nem sequer falam árabe.”

A realidade é que estes jihadistas ocidentais acabam por desempenhar papéis secundários: têm funções de guardas, ou então são enviados em missões suicidas. Foi esse o caso de Muhammad Hamidur Rahman, um britânico de 25 anos que trabalhou na Primark, e morreu a lutar pelo EI. 
 

   

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