Israel procura adolescentes desaparecidos na Cisjordânia com o Hamas na mira

Governo decide alargar buscas a outras cidades e ordena o endurecimento das condições de segurança dos presos do movimento islamista.

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Os palestinianos queixam-se que as operações militares transformaram Hebron "numa grande cadeia" Baz Ratner/Reuters

É já a maior operação militar desencadeada por Israel na Cisjordânia desde o fim da segunda Intifada, em 2005. Com a promessa de encontrar os três adolescentes desaparecidos na quinta-feira – que o Governo israelita assegura terem sido sequestrados pelo Hamas –, o Exército alargou as buscas e deteve já mais de 200 pessoas, num esforço que visa também pôr em xeque o governo palestiniano de unidade nacional recém-criado.

“Estamos a transformar o cartão de membro do Hamas num bilhete para o Inferno”, disse Naftali Bennett, ministro da Economia e líder do partido ultranacionalista Casa Judaica. Pouco depois, o gabinete de segurança israelita, encabeçado pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, decidiu que vai endurecer as condições em que vivem os militantes do Hamas presos, em retaliação pelo sequestro. Decidiu também reforçar a pressão militar sobre o movimento islamista, o que segundo a rádio militar passará por estender a caça ao homem a outras cidades da Cisjordânia, incluindo Ramallah, onde está sediada a Autoridade Palestiniana, Belém e Jenin (no Norte).

Até agora as operações estiveram concentradas em Hebron, a maior cidade da Cisjordânia que foi durante muito tempo um bastião do Hamas no território e em cujos arredores foi encontrada a carcaça calcinada de um carro que os serviços de informação israelitas acreditam ter sido usado no sequestro. Gil-Ad Shaer e Naftali Fraenkel, de 16 anos, e Eyal Yifrah, de 19, foram vistos pela última vez a pediar boleia num cruzamento perto da escola talmúdica que os dois mais novos frequentam no colonato de Gush Etzion.

Desde então, não se entra nem sai de Hebron sem passar pelo crivo dos soldados israelitas, mobilizados em força para a cidade, e dezenas de pessoas, na maioria ligados ao Hamas, foram detidas em raides nocturnos. “Estamos a ser punidos colectivamente”, disse ao New York Times o presidente da câmara local, afirmando que o cerco transformou Hebron “numa grande prisão”.

Na noite de segunda-feira, as operações alargaram-se já a Nablus, no Sul do território, onde o Exército anunciou a detenção de 41 “suspeitos”. Alguns serão operacionais do Hamas, mas entre os mais de 200 detidos nos últimos cinco dias há imãs, académicos, dirigentes e deputados islamistas, incluindo o presidente do Parlamento palestiniano, Aziz Dweik. O objectivo, disse ao Jerusalem Post um porta-voz militar, é recolher informação que possa conduzir ao paradeiro dos jovens e “influenciar as pessoas” que tenham informações relevantes sobre o sequestro.

Netanyahu encontrou-se nesta terça-feira com as famílias dos três jovens e afirmou que está a ser feito “enorme esforço operacional dos serviços de informação” para os encontrar. Mas aquilo que começou por ser um “grave incidente táctico” pode representar uma oportunidade estratégica para Israel, sublinha Amos Arel, especialista em questões de defesa do jornal Ha’aretz. Por um lado, escreveu o jornal de grande circulação Yediot Aharonot, dá ao Exército uma “oportunidade única” para “eliminar os bastiões do Hamas na Cisjordânia”. Por outro, acrescenta Arel, permite a Netanyahu travar a reconciliação entre a Fatah e o Hamas que, após sete anos de conflito, acordaram no início deste mês a formação de um governo de unidade nacional.

Os primeiros sinais de tensão entre as duas facções começam já a sentir-se: Israel está a pressionar Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana e líder da Fatah, a colaborar nas buscas, sublinhando que não pode descartar a responsabilidade por um ataque “oriundo do seu território”, ainda que os jovens tenham desaparecido numa zona sob controlo total do Exército. O Hamas respondeu que qualquer colaboração com os militares israelitas equivale a “uma facada nas costas” do novo governo.

O caso representa também um golpe para a legitimidade internacional do executivo. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, veio já condenar “nos termos mais fortes possível o sequestro,” dizendo que tais acções minam os esforços para reanimar as negociações de paz. Pede, por isso, a israelitas e palestinianos que continuem a negociar com vista “à rápida libertação dos reféns”. O Ministério dos Negócios Estrangeiros português juntou-se ao coro, ao condenar “fortemente o desaparecimento” dos jovens, ao mesmo tempo que pediu a “máxima contenção” às duas partes.

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