Israel destrói casas de palestinianos acusados de matar israelitas

É o terceiro dia de motins nos territórios ocupados da Palestina. Netanyahu tenta equilibrar resposta securitária com a ala conservadora do seu Governo, que lhe pede mais colonatos e mão dura com militantes palestinianos.

Foto
Motins entram no terceiro dia consecutivo. Dois jovens palestinianos morreram e mais de uma centena ficou ferida. Thomas Coex/AFP

Israel demoliu na madrugada desta terça-feira as casas de dois homens palestinianos acusados da morte de israelitas em 2014. Esta punição é justificada por Jerusalém como uma forma de desencorajar ataques contra cidadãos seus em territórios palestinianos, embora seja condenada por organizações de direitos humanos, como a Human Rights Watch, que a considera ilegal e uma “destruição vingativa que afecta famílias inteiras”.

Os pisos destruídos durante a noite pertenciam a Abu Jamal e Mohammed Jaabis. O primeiro, com a ajuda do seu primo, atacou e matou quatro rabinos e um polícia israelita. Jaabis, por sua vez, lançou-se numa retroescavadora contra um autocarro. Atingiu mortalmente um israelita e feriu outros. Os dois foram abatidos pela polícia nos locais dos crimes. A polícia vedou ainda o quarto de um palestiniano que tentou matar um activista conservador judeu em Outubro de 2014.   

As duas demolições estavam aprovadas há meses, mas a polícia só avançou agora, o que as faz coincidir com dias de severa instabilidade e violência em Israel e territórios ocupados. Os ataques dos últimos dias fizeram várias vítimas, entre famílias israelitas e palestinianos abatidos pela polícia em motins na Cisjordânia. A isto somam-se dois bombardeamentos na Faixa de Gaza em poucos dias, alegadamente contra edifícios do braço armado do Hamas, em resposta ao disparo de rockets.

O momento não é ao acaso. O primeiro-ministro israelita anunciou no domingo que serão tomadas medidas mais duras contra ataques a cidadãos israelitas, entre elas a demolição mais rápida das casas de palestinianos culpados do homicídio de israelitas. Benjamin Netanyahu exigiu-o à ministra da Justiça numa reunião de emergência do gabinete de segurança. O Governo quer aprovar também mais policiamento nos territórios ocupados e medidas mais permissivas para a detenção sem julgamento de suspeitos de ataques contra israelitas.

Os nacionalistas no Governo querem uma resposta mais dura. Naftali Bennet, o líder do Casa Judaica – partido que em Israel mais pronunciadamente se opõe à existência de um Estado palestiniano –, exigiu durante o encontro do gabinete de segurança que por cada acto de violência contra israelitas se construa um novo colonato judeu nos territórios ocupados da Cisjordânia e Leste de Jerusalém.

O líder do Casa Judaica não esteve sozinho no domingo nos apelos. Teve o apoio de Ayalet Shaked, ministra da Justiça, do mesmo partido, e Ze'ev Elkin, ministro da Imigração e Absorção, do Likud. Foi Aryeh Deri, ministro da Economia e judeu ultra-ortodoxo quem disputou estas exigências na reunião, segundo escreve o diário israelita Haaretz, dizendo que se o Governo israelita as aprovasse poderia ter de enfrentar uma nova intifada.

Netanyahu, que já de si construiu a figura do político na luta ao “terrorismo palestiniano” – visitou nesta terça-feira postos do exército na Cisjordânia –, está sob pressão dos sectores mais conservadores e de líderes de colonatos. Milhares de judeus viajaram na segunda-feira para uma manifestação em Jerusalém diante a casa de Netanyahu a exigirem mão firme contra militantes palestinianos e a construção de mais colonatos. 

Esta terça-feira foi o terceiro dia de motins violentos nos territórios ocupados. Os primeiros confrontos começaram no domingo, em resposta ao encerramento temporário da Cidade Velha de Jerusalém a palestinianos não residentes. Morreram já dois jovens e centenas de palestinianos ficaram feridos na resposta da polícia, em vários locais do território ocupado. O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, que na segunda-feira reuniu o concelho militar, disse que não deseja "um ambiente de segurança ou militar mais violento" por parte dos israelitas. 

A circulação de palestinianos não residentes para a Cidade Velha foi restabelecida nesta terça-feira, ao terminar o feriado judeu de Sukkot, mas isso não acalmou os protestos. O bloqueio, decidido depois de dois ataques a israelitas nessa zona da cidade que fizeram dois mortos, galvanizou a contestação da comunidade muçulmana contra o Governo israelita, a quem acusa de lhe querer vedar o acesso aos locais sagrados do Islão em Jerusalém. O centro das reivindicações é a mesquita de al-Aqsa, à qual a polícia israelita continua a negar entrada a palestinianos com menos de 50 anos. 

Sugerir correcção
Ler 3 comentários