Israel anuncia construção de mais 1400 habitações nos colonatos da Cisjordânia e Jerusalém Oriental

A iniciativa foi denunciada pelo líder da equipa negocial palestiniana como uma "bofetada" nos esforços diplomáticos dos Estados Unidos e a "destruição do processo de paz".

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Operários palestinianos trabalham na construção de novas casas no colonato de Ramat Shlomo, em 2013 REUTERS/Baz Ratner

A autorização pelo Governo de Israel da construção de mais 1400 habitações nos colonatos judaicos da Cisjordânia e Jerusalém Oriental era esperada desde o fim de Dezembro, mas o responsável pela equipa negocial palestiniana, Saeb Erekat, reagiu ao anúncio de ontem como se fosse uma surpresa. “Esta decisão revela o claro compromisso de Israel com a destruição do processo de paz”, sublinhou o diplomata, classificando o episódio como uma “bofetada” nos esforços do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, para a assinatura de um acordo.

Foi, de resto, por causa da visita de Kerry à região esta semana – para contactos com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas – que a publicação dos editais para a expansão das construções nos territórios ocupados por Israel foi adiada. A ordem para o avanço de novas construções já tinha sido divulgada pelas autoridades israelitas no final do ano passado, como uma espécie de contrapartida pela libertação de 26 prisioneiros palestinianos a 31 de Dezembro.

O ministério da Habitação israelita emitiu licenças para a construção de mais 801 unidades habitacionais nos colonatos de Efrat, Elkana e Emanuel, na Cisjordânia, e outras 600 no bairro de Ramat Shlomo, situado em Jerusalém Oriental. Ao mesmo tempo, o ministério renovou outras 532 licenças de construção em colonatos de Jerusalém Oriental, que não foram adjudicadas depois da primeira emissão. Estas construções são consideradas ilegais ao abrigo da lei internacional; para os Estados Unidos, que têm mediado as conversações de paz, são “ilegítimas”.

Nem o Governo de Telavive nem Washington comentaram o anúncio da construção de novos colonatos. Como notavam os observadores internacionais, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estava sob pressão da facção mais radical do seu Governo, que exigia contrapartidas pela libertação de presos palestinianos. Ao mesmo tempo, lembravam, uma iniciativa semelhante, anunciada em 2010 na véspera de uma visita a Israel pelo vice-presidente dos EUA, Joe Biden, congelou as relações e levou à suspensão das negociações de paz.

Do lado palestiniano, a reacção foi furiosa. Além de descrever o anúncio da expansão dos colonatos como uma confirmação do interesse de Israel num “regime de apartheid”, Saeb Erekat considerou que com esta medida, o Governo de Netanyahu estava a “testar” a Administração norte-americana. “Agora vamos perceber se os americanos estão simplesmente a ser ingénuos ou se são cúmplices de Israel nas negociações”, frisou ao The New York Times um dos membros do comité executivo da OLP, Hanan Ashrawi.

A Autoridade Palestiniana convocou uma reunião urgente para decidir sobre as medidas a tomar: em Dezembro, Erekat tinha avisado que a autorização de novas construções nos colonatos judaicos levaria à apresentação de queixas contra Israel no Tribunal Criminal Internacional e nas Nações Unidas.

A organização israelita Peace Now, que se dedica à monitorização das construções nos colonatos judaicos, notava ontem que desde que as negociações directas foram retomadas, Israel já tinha anunciado planos para acrescentar 5439 novas habitações aos colonatos da Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

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