Infanta espanhola pode ser acusada de branqueamento de capitais

Cristina, a filha mais nova do rei Juan Carlos, comprou roupa, chocolates e livros de Harry Potter com dinheiro suspeito.

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O rei não conseguiu manter-se à margem do caso Nóos Enrique Calvo/Reuters

O juiz espanhol que investiga a teia de corrupção ligada a Iñaki Urdangarín, genro do rei de Espanha, vai decidir nos próximos dias se ordena uma investigação aos ganhos e gastos da infanta Cristina.

A filha mais nova do rei Juan Carlos, casada com Urdangarín, fez, ao longo dos anos, uma série de pagamentos com os cartões de crédito da sociedade patrimonial que tem com o marido, a Aizoon, para onde Urdangarín passou uma parte do dinheiro público que desviou.

Urdangarín já foi formalmente acusado no caso Nóos, a fundação sem fins lucrativos para promover o desporto que geriu durante anos. Juntamente com um sócio, Diego Torres, pôs a Nóos a render através de contratos celebrados sobretudo com os municipios das ilhas Baleares e de Valência. Urdangarín e Torres cobravam por eventos que não correspondiam ao que estava no contrato, cobravam por serviços que lhes custavam bastante menos do que diziam (falsificavam facturas) e usavam a influência "do genro" para multiplicarem os contratos e as facturações.

Parte desse dinheiro, apuraram os investigadores, foi para a Aizoon. E terá sido com esse dinheiro público desviado que a infanta pagou, entre 2007 e 2008 (os anos a que se refere a documentação em investigação e que foi divulgada pela imprensa espanhola desta terça-feira), quatro livros da saga Harry Potter, roupa que comprou através de um catálogo, a assinatura de uma série de revistas, umas botas que encomendou numa loja de Nova Iorque, um hotel onde pernoitou em Moçambique (quando, sublinha o El Mundo, estava ao serviço da Fundação La Caixa, onde trabalha), ramos de flores, um fim-de-semana em Roma (para toda a família, os Urdangarín ocuparam dez quartos de hotel) e muitas mais coisas, entre elas um chocolate comprado no aeroporto de Genebra.

Os Urdangarín também pagaram com o cartão de crédito da Aizoon as aulas privadas que receberam sobre técnicas de marketing e de recursos humanos. E o genro do rei creditou na sociedade patrimonial a noite que passou num hotel de luxo no parque Krugger e o safari que fez.

Os investigadores têm ainda muito trabalho pela frente e muitas contas para fazer. Os gastos estarão acima dos rendimentos (salários e património) dos duques. Se ficar provado que o dinheiro gasto através da Aizoon entrou na sociedade patromonial através da Nóos, a infanta – que, por enquanto, ainda não foi tocada pela investigação aos crimes do marido – pode ser causada de branqueamento de capital, diz o El País.

Os Urdangarín estão a viver em Genebra, onde Cristina trabalha e para onde se mudaram, para evitar a pressão dos media, enquanto decorrem as investigações e até haver desenvolvimentos no caso Nóos. O palacete de luxo onde residiam em Barcelona foi posto à venda. O casal foi afastado do protocolo e de actos oficiais, e há muitos meses que Cristina não é fotografada junto do rei.

Apesar destas medidas, o caso Nóos – associado a escândalos directamente relacionados com Juan Carlos – foi um golpe na imagem da monarquia espanhola, que está em queda de popularidade.  

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