Imigrantes que chegaram a Catania foram transferidos para uma traineira perto da costa

Autoridades abrem inquérito por homicídio múltiplo. Seis dos passageiros, de nacionalidade egípcia, morreram afogados quando saltaram do barco a poucos metros da costa.

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As seis vítimas mortais eram de nacionalidade egípcia Antonio Parrinello/Reuters
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Cerca de 100 pessoas chegaram à costa nesta embarcação DARIO AZZARO/AFP
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Ao todo, foram resgatadas com vida 94 pessoas DARIO AZZARO/AFP

Os cerca de 100 imigrantes sírios e egípcios que chegaram no sábado a Catania, na Sicília, viajaram num barco maior até às proximidades da costa italiana. As autoridades locais admitem o envolvimento de organizações italianas.

"[Os contrabandistas] disseram aos imigrantes que o barco estava encalhado num banco de areia. Eles pensaram que tinham chegado, mas havia uma depressão mais à frente. Os que não sabiam nadar caíram nessa armadilha", contou o procurador de Catania, Giovanni Salvi, numa entrevista ao jornal católico Avvenire.

Os seis imigrantes que morreram afogados eram de nacionalidade egípcia e não síria, ao contrário do que tinha sido anunciado inicialmente. Tinham entre 17 e 27 anos de idade.

De acordo com o inquérito preliminar, as autoridades italianas acreditam que o barco, de 18 metros de comprimento, foi rebocado por outra embarcação de maior dimensão até às proximidades da Sicília. Os contrabandistas terão então transferido os passageiros para a traineira, que acabou por chegar à cidade de Catania. Para suportar esta tese, as autoridades avançam que alguns viajantes apresentavam sinais de desidratação, mas o estado de saúde da maioria indicava que não tinham feito uma longa viagem pelo Mar Mediterrâneo numa pequena embarcação.

"Chegar com um 'barco mãe' à costa siciliana, sem parar em Lampedusa, e depois transferir as pessoas para um barco mais pequeno é uma sinal evidente de que existe uma organização", disse o procurador de Catania, Giovanni Salvi, ao Avvenire.

O mesmo responsável disse que existem provas de "colaboração com organizações criminosas locais, que ganham com este tráfico, que é muito lucrativo".

Questionado sobre se as organizações a que se referia eram italianas, designadamente com ligações à máfia, o procurador disse que "há seguramente um envolvimento de uma base italiana". "Ainda não sabemos se foi isso que aconteceu neste caso, mas já aconteceu no passado", afirmou.

Três dos contrabandistas conseguiram escapar, mas as autoridades detiveram dois adolescentes, de 16 e 17 anos, que tinham como função distribuir comida ao longo do trajecto.

No barco seguiam cidadãos sírios e egípcios. Um bebé de sete meses chegou a ser hospitalizado, mas encontra-se a recuperar bem.

A chegada deste barco à costa Este da Sicília foi descrita no sábado pelo capitão Roberto D'Arrigo, da Guarda Costeira de Catania, como "um acontecimento anómalo" – a maioria das pessoas que tentam chegar ao território italiano fá-lo através da costa mais a sul ou da ilha de Lampedusa, a 110 km da Tunísia. Segundo o responsável, esta foi mesmo a primeira vez que um barco com imigrantes chegou a Catania.

Menos mortes em 2013
De acordo com os números do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), 8400 pessoas chegaram às costas de Itália e de Malta no primeiro semestre do ano, a maioria proveniente de países da África subsariana.

A maioria dos passageiros são oriundos da Somália e da Eritreia, mas os relatórios das Nações Unidas identificam também muitos imigrantes de países como Egipto, Paquistão, Síria, Gâmbia, Mali e Afeganistão.

Pelo menos 40 pessoas morreram nos primeiros seis meses do ano, em travessias entre a Tunísia e Itália, embora as autoridades admitam que muitos outros casos de vítimas mortais nunca cheguem a ser conhecidos.

Em 2012, o ACNUR registou cinco centenas de mortes ou desaparecimentos no mar Mediterrâneo. A diferença entre o número de vítimas mortais no ano passado e no primeiro semestre de 2013 é explicada "pelo aumento dos esforços de coordenação de salvamento no mar das autoridades italianas e maltesas, em particular a Guarda Costeira de Itália e as Forças Armadas de Malta", segundo um balanço do ACNUR publicado na semana passada.

No mesmo documento, o alto comissariado presidido por António Guterres congratula-se com "os esforços das autoridades de Itália, de Malta e da Líbia no salvamento de embarcações em perigo no Mediterrâneo" e apela a "todos os países para que continuem a cumprir as suas obrigações de acordo com a lei internacional dos refugiados e as leis marítimas".

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