Humorista Jimmy Morales vence presidenciais na Guatemala

Os eleitores rejeitaram os candidatos dos partidos tradicionais, minados pela corrupção.

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Jimmy Morales (com a mulher, Hilda Marroquin) a proferir o discurso da vitória Rodrigo Arangua/AFP

Cansados da corrupção que mina a classe política — ao ponto de o anterior Presidente ter sido formalmente acusado e forçado à demissão —, os eleitores da Guatemala elegeram para a chefia de Estado um homem sem experiência de governação: Jimmy Morales, um popular humorista. O candidato conservador, que é um homem profundamente religioso, terá como missão reconciliar o país e devolver credibilidade às instituições democráticas, atingidas por um escândalo de corrupção sem precedentes.

Morales, o líder da Frente de Convergência Nacional, obteve 68,5% dos votos, conseguindo mais um milhão de votos do que a outra candidata que passara à segunda volta das presidenciais, Sandra Torres. Com 33%, a antiga primeira-dama (ex-mulher do Presidente Álvaro Colom) e líder da Unidade Nacional da Esperança, formação de centro-esquerda, nem esperou pelo fim da contagem para reconhecer a derrota e “desejar o maior êxito” ao Presidente eleito, “a bem do país”.

Morales, que se tornou o candidato mais votado de sempre desde a instauração da democracia, em 1985, venceu em 21 dos 23 distritos eleitorais da Guatemala, diz o jornal local El Periódico, que avança na edição desta segunda-feira que a equipa governativa (a Guatemala é um regime presidencialista) só deverá ser conhecida em Dezembro, uma vez que Morales e pelo seu vice-presidente, Jafeth Cabrera, nada disseram ainda sobre quem chefiará que sector.

Quanto ao programa de governo, também pouco é conhecido: durante a campanha eleitoral, Morales disse que as suas prioridades são a saúde, a educação e o desenvolvimento económico, além da tolerância zero para a corrupção. Ainsa assim, faltaram propostas concretas. O manifesto eleitoral da Frente Convergência Nacional, de apenas seis páginas, era notoriamente vago. “Foi o triunfo da anti-política”, decretaram os comentadores.

A má governação, mas sobretudo a corrupção, é considerada a grande responsável pelo triunfo deste político de fora do sistema — não é totalmente um novato, o actor, realizador e produtor de 46 anos foi, em 2011, candidato derrotado à presidência do município de Mixco pelo partido Acção de Desenvolvimento Nacional e era desde há dois anos o secretário-geral da Convergência Nacional. O seu movimento só dispõe de 7% dos assentos da Câmara de Deputados – os analistas antecipam uma governação conturbada, uma vez que o novo Presidente não conta com uma base de apoio parlamentar sólida.

No mês passado, o então Presidente Otto Perez foi forçado a demitir-se, depois de ter sido formalmente acusado pela justiça no âmbito de um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude fiscal que envolve os serviços alfandegários — tal como a sua vice-presidente, encontra-se detido a aguardar julgamento. "Como Presidente eleito, recebi um mandato do povo da Guatemala para combater a corrupção que nos está a consumir", disse Morales, que toma possa a 14 de Janeiro. "Estamos cansados de ver as mesmas caras que enriquecem porque ficam com o nosso dinheiro", acrescentou, na noite de domingo.

No ano passado, Morales — que estudou Teologia e se define como um social-democrata — abandonou a comédia de grande sucesso que protagonizava há 14 anos na televisão para se dedicar inteiramente à política. Um dos seus personagens de maior sucesso foi, precisamente, o de um homem simples que inesperadamente se via empossado Presidente. Em Abril, pouco se notava a sua presença na corrida presidencial nas sondagens. Mas entretanto surgiu a investigação das Nações Unidas sobre corrupção no poder na América Latina, envolvendo Perez, que também foi constituído arguido pela justiça da Guatemala, e ficou a saber-se que também o candidato mais bem posicionado nos inquéritos de opinião estava envolvido em crimes de corrupção.

A frustração dos eleitores levaram Morales à segunda volta e, no domingo, à vitória — apesar de algumas propostas classificadas de extravagantes pela imprensa da Guatemala, como pôr GPS nos telefones dos professores para garantir que não faltam às aulas ou  reabrir um conflito antigo e ultrapassado com o vizinho Belize pela posse de um território outrora disputado.

 

 

 

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