Humorista egípcio acusado de insultos ao islão e a Morsi

Na semana passada, cinco activistas políticos foram presos por crimes de expressão proibidos na Constituição islamista. O popular Bassem Youssef, uma espécie de Jon Stewart egípcio, foi o mais recente

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O programa de Bassem Youssef passa três vezes por semana num canal independente KHALED DESOUKI/AFP

Fez troça do Presidente, desrespeitou o Islão, quis perturbar a ordem pública e... Um tribunal do Cairo tem a certeza de que o humorista egípcio Bassem Youssef cometeu mais um crime, mas deixou-o sair da prisão sob caução enquanto procura, nas leis, fundamentar o quarto pecado.

Youssef, um humorista muito popular no Egipto, soube no sábado que um juiz tinha ordenado a sua prisão. No domingo de manhã, entregou-se. A sua ficha de prisioneiro foi preenchida, depois foi interrogado, finalmente foi levado perante um juiz que, em primeiro lugar, o mandou apagar as piadas que publicara entretanto no Twitter. Por exemplo: “Os polícias querem tirar fotografias comigo, desconfio que foi por essa razão que fui preso”.Antigo médico cardiologista, Bassem Youssef ganhou popularidade nas redes sociais depois da queda de Hosni Mubarak, em Fevereiro de 2011. Ganhou seguidores com os vídeos que colocava na Internet e, em pouco tempo, a carreira na medicina dava lugar a uma carreira na televisão. Criou um programa, chamado precisamente
O Programa, que decalca o modelo do Daily Show do americano John Stewart (CNN, SIC Notícias). Comenta notícias, cria notícias, parodia as figuras públicas (sobretudo as políticas num país que viveu uma revolução há tão pouco tempo). Retratou o Presidente Mohamed Morsi como um faraó, chamou-lhe “Super-Morsi” por ter amplos poderes executivos e legislativos, parodiou os seus discursos de teor islamista. Foi ordenada uma investigação à sua actividade (às suas piadas) cujo resultado foi anunciado no sábado: seria preso por insultar o Presidente, manchar a sua imagem no estrangeiro (fez troça do tamanho do barrete académico que puseram a Morsi no Afeganistão, quando lá recebeu um doutoramento honorário), desrespeitar o Islão e mais qualquer coisa.O programa de Youssef, que é muçulmano, passa três vezes por semana num canal de televisão independente. A sua prisão e uma eventual proibição do programa, foram considerados, por muitos analistas, um sinal de perigo — a Constituição egípcia, de teor islâmico, está a matar a liberdade de expressão.
No início da semana passada, e por insultos ao Presidente, cinco activistas políticos da oposição foram presos, um deles um bloguer acusado de escrever textos cujo teor incita à desordem pública.
Youssef foi mandado para casa pelo tribunal, esperará o julgamento em liberdade e pagou 2500 euros de fiança (15 mil libras egípcias). H.A. Hellyer, num artigo de opinião na televisão Al Arabyia, diz que pensou que a notícia da prisão fosse uma notícia criada pelo próprio humorista para
O Programa. Só depois percebeu que era verdade. “Se o Estado fosse esperto, teria pedido, insistido até, para Youssef convidar [Morsi] a ir ao programa. (...) Assim, só deu aos críticos mais razões”.

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