Homens capturados na Ucrânia dizem à OSCE que são soldados russos

Equipa independente de observação do conflito na Ucrânia apoia conclusões de Kiev. Moscovo diz que dois homens já não pertencem ao exército russo.

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Alexander Alexandrov, um dos alegados soldados russos, fotografado no hospital militar de Kiev Gleb Garanich/Reuters

Os dois homens russos capturados no leste da Ucrânia, na semana passada, admitiram à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) que são ambos das Forças Armadas russas e que estavam no país em “missão de vigilância”.

O Governo ucraniano já anunciara que os dois homens, capturados e feridos nos arredores do bastião separatista de Lugansk, faziam parte das Spetsnaz, as forças especiais russas. Mas a informação publicada na quinta-feira pela OSCE é o primeiro relato independente que confirma as conclusões de Kiev.

De acordo com os responsáveis pela monotorização do conflito ucraniano da OSCE, os dois homens foram entrevistados sem a presença das autoridades ucranianas, no hospital militar de Kiev, onde estão a receber cuidados médicos. “Os dois indivíduos disseram que eram membros de uma unidade das Forças Armadas da Federação Rússia”, lê-se no relatório da OSCE, e “ambos afirmaram que tinham estado antes na Ucrânia ‘em missões’”.

Segundo os relatos dos dois homens, a sua missão era de “reconhecimento” e, apesar de estarem armados, “não tinham ordens para atacar”. Um dos soldados capturados disse ainda “repetidamente”, palavras da OSCE, que não havia mais “tropas russas a lutarem na Ucrânia”. O outro indivíduo avançou que estava agendada uma rotação com outras tropas russas ao fim de três meses no país.

A OSCE é uma organização intergovernamental, na qual se insere grande parte do hemisfério Norte, incluindo a Rússia, e que na Ucrânia está encarregada de supervisionar o cumprimento da trégua dos acordos de Minsk e de monitorizar o conflito. O cessar-fogo, contudo, tem sido repetidamente violado ao longo dos últimos meses e o exército ucraniano tem relatado mortes todas as semanas. Desde o início do conflito, já morreram mais de 6100 pessoas. 

Ucrânia, União Europeia e NATO têm repetidamente acusado Moscovo de apoiar os rebeldes separatistas no leste da Ucrânia e dizem que há armamento e milhares de soldados russos no Donbass, o nome coloquial da região. Mas a Rússia tem negado as acusações desde o início. Se há russos a lutarem no leste da Ucrânia, diz o Kremlin, "são voluntários".

O ministério da Defesa russo afirmou, no início desta semana, que os dois homens capturados no leste da Ucrânia são antigos militares russos e que já não pertencem ao exército. Face às alegações de Kiev e declarações dos alegados militares russos, o Governo russo respondeu dizendo que o que está em causa são “testemunhos convenientes”, conseguidos através de tortura.

Multiplicam-se, de facto, os relatos de tortura a prisioneiros em ambos os lados. Num relatório publicado na quarta-feira, que inclui entrevistas a mais de 30 antigos detidos, a Amnistia Internacional documenta a prática recorrente e comum de tortura a prisioneiros de guerra, quer do lado do exército de Kiev, quer do lado dos separatistas pró-Rússia.

Neste novo relatório há também informações sobre mais execuções sumárias contra prisioneiros, atribuídas novamente ao lado separatista. Em 2014, a Amnistia Internacional já acusara os rebeldes de leste de assassinarem detidos pró-Kiev. 

Os rebeldes pró-Rússia afirmam que os dois homens capturados no sábado perto da cidade de Shchastia, entretanto identificados como Euvhen Yerofeyev e Alexander Alexandrov, são dois voluntários do movimento separatista que estão na Ucrânia há vários meses. De acordo com os separatistas, os dois homens foram atacados pelo exército ucraniano num posto de vigilância dos rebeldes. 

Segundo o relatório em que trabalhava Nemtsov quando morreu – o político oposicionista russo assassinado em Fevereiro junto ao Kremlin – já morreram pelo menos 220 soldados russos em combate no leste da Ucrânia. De acordo com o relatório póstumo de Nemtsov, o exército russo obriga os seus militares a apresentarem a demissão antes de serem enviados para a Ucrânia, de maneira a não existirem provas do seu vínculo com o Kremlin. 

Os dois homens capturados foram acusados na Ucrânia de "actividades terroristas". De acordo com o seu testemunho, na véspera da visita da OSCE foi-lhes apontado um advogado ucraniano que os representará em julgamento. 

O Governo russo já fez saber que pretende libertar os dois homens. Euvhen Yerofeyev e Alexander Alexandrov são "cidadãos russos detidos e, neste sentido, o lado russo está a tomar os passos necessários para os libertar", afirmou nesta sexta-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela agência russa RIA. 

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