Caça ao homem em Paris para encontrar o “atirador louco”

Fotógrafo de 23 anos atingido a tiro no seu primeiro dia de trabalho no jornal Libération encontrava-se em estado crítico. Polícia “esquadrinhava” a zona Oeste de Paris.

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Agentes policiais na zona dos Campos Elíseos, um dos centros turísticos da capital francesa AFP/Fred Dufour
A entrada para a redacção do Libération
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A entrada para a redacção do Libération AFP
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O ministro francês do Interior, Manuel Valls (ao centro), ladeado pelo presidente da Câmara de Paris (à sua esquerda) e por Nicolas Demorand, director do Libération (à direita) Reuters/Gonzalo Fuentes
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Elementos da Polícia Judiciária junto ao banco Société Générale em La Défense, onde também foram disparados tiros Reuters/Jacky Naegelen
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Polícia guarda a entrada da estação de rádio France Info: vários locais na capital francesa estão sob apertada vigilância AFP/Martin Bureau
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Aurelie Filippetti, ministra francesa da Cultura e Comunicação, à chegada à redacção do Libération AFP/Kenzo Tribouillard
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Elementos da polícia na Esplanada do Trocadero, junto à Torre Eiffel AFP/Thomas Samson
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Helicóptero da polícia sobrevoa os Campos Elíseos: as buscas também se fazem por ar Reuters/Christian Hartmann

O atirador não disse uma palavra: chegou à entrada da redacção do diário francês Libération, disparou contra um assistente de fotografia, e saiu. A polícia procurava por meia Paris o homem, descrito como usando uma gabardina verde-tropa e de boné, e tendo um aspecto tipo caçador.

A polícia diz que o homem, que se estima ter uns 40 anos, terá sido o autor de disparos, horas mais tarde, contra a fachada de uma das duas torres do banco Societé Générale no distrito financeiro da capital, sem provocar vítimas, e que obrigou um condutor a levá-lo para a zona dos Campos Elíseos. Esta era, à hora de fecho desta edição, a sua última localização conhecida.

A polícia acredita também que este foi o mesmo homem que na sexta-feira tinha entrado na recepção da televisão BMF, e que depois de tirar dois cartuchos da sua arma, deitando-os para o chão, ameaçou: “Para a próxima, não vou errar."

O ritmo frenético do Twitter com a etiqueta #TireurFou (atirador louco) ia tendo picos com as novas informações ao longo do dia. A possível ligação entre os atiradores, um possível percurso do atacante…. Entre tudo isto, uma constante: o estado grave da vítima, um assistente de fotografia de 23 anos (ao longo do dia foi indicado que teria 27 anos, a informação sobre a idade foi avançada já à noite), internado no hospital Pitié-Salpêtrière. A polícia disse apenas uma frase: “está na reanimação e a sua vida está ameaçada”. Iria trabalhar numa produção da revista Next, a revista de artes e tendências do Libé. Ontem era o seu primeiro dia no jornal.

A recepcionista do Libération contou que tudo demorou apenas alguns segundos e que o atacante “disparou contra a primeira pessoa que viu” antes de sair, calado como tinha entrado. Estavam três pessoas no local, “podia ter sido qualquer um de nós”. O primeiro tiro acertou no fotógrafo, o segundo no chão, e o terceiro terá encravado, relatou ainda a recepcionista, que tentou escapar “colando-se contra o elevador."

Ao ouvir dois estrondos, Lionel, que trabalha na secção de informática do Libération e é bombeiro voluntário, pensou que tinha havido um problema com o monta-cargas. Correu para a entrada para ver o que tinha acontecido: “havia sangue por todo o lado, cartuchos no chão”. A vítima foi atingida de costas. A bala, “do tamanho de um polegar, disparada à queima-roupa,  entrou ao nível das costelas esquerdas, e saiu ao nível do mamilo”, descreveu o bombeiro. Lionel foi aplicando primeiros socorros ao colega, falando-lhe, acalmando-o e tentando que se mantivesse acordado até que chegasse uma ambulância. “Deixei-o orientado e consciente.

As sedes dos principais media franceses tinham entretanto uma visível presença policial à porta. Na Radio France, pelas 14h45, um alerta levou a segurança e polícia a levar os funcionários para o exterior do edifício, mas pouco depois o edifício foi declarado seguro e os funcionários puderam regressar ao trabalho.
Falando de Israel, onde estava em visita de Estado, o Presidente, François Hollande, declarou que no ataque “foi visada a liberdade de informação”.

Jornais-bunker "não encaixam na nossa sociedade"
“Somos testemunhas de um drama horrível. Em democracia, quando se entra com uma caçadeira num jornal é muito grave, seja qual for o estado mental da pessoa que o faz”, disse o director do Libération, Nicolas Demorand. “Se os jornais e os media tiverem que se tornar bunkers, isso será algo que não encaixa na nossa sociedade”, acrescentou. Uma série de mensagens de solidariedade chegaram ao jornal, desde o blogue do primeiro-ministro, François Fillon, até ao jornal satírico Charlie Hebdo (alvo de um incêndio criminoso em 2011).

O diário tinha marcado a semana anterior com uma edição sem fotografias nem imagens com o objectivo de chamar a atenção para a sua importância e alertar para a situação “calamitosa” dos fotógrafos, sobretudo os que estão em zonas de guerra.

O procurador François Molins, em conferência de imprensa, sublinhou que “não há nenhum contexto reivindicativo” na acção do atirador.Em conferência de imprensa, Molins divulgou imagens do atirador e juntou alguns dados à descrição – “homem entre 35 e 45 anos, 1,70 m a 1,80 m, cabelo grisalho que terá rapado, de óculos, boné, casaco verde-tropa ou camisola, que hoje usava ténis verdes e brancos”, pedindo a quem tivesse informações sobre o suspeito que contactasse a polícia.

Antes, tinha falado o ministro do Interior, Manuel Valls, assegurando: “Está a ser feito tudo para prender este indivíduo tão depressa quanto possível”, sublinhando que este representa “um perigo claro” e que “aqui, no centro de Paris, não podemos aceitar estas acções”.
 
 
 
 
 

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