Hollande, liberal ou socialista acelerado?

O que faz um presidente impopular e com a economia estagnada? Muda de ideologia

Mais de 500 jornalistas creditados para assistir à conferência de imprensa de François Hollande. Uma parte interessada em ouvir o Presidente sobre a sua alegada ligação amorosa com uma actriz francesa, e a outra parte interessada em conhecer o plano de Hollande para o relançamento da economia. E o Presidente francês, que se candidatou para acabar com a austeridade e pôr os ricos a pagar a crise, confirmou aquilo que já todos suspeitavam; uma volta de 180 graus em termos de política económica. Resumindo, Hollande veio anunciar que vai baixar drasticamente a despesa pública, reduzir o peso do Estado na economia, cortar na Segurança Social e, por outro lado, baixar os impostos para as empresas, reduzir a burocracia e cortar nos custos de trabalho.

Para uma grande parte da esquerda francesa, a doutrina de cortar nos gastos públicos para ganhar folga e reduzir a carga fiscal das empresas é quase uma heresia. Os empresários naturalmente aplaudiram. Sindicatos e grande parte da esquerda falam em viragem ideológica. E na conferência, os jornalistas ainda questionaram a inspiração ideológica do Presidente francês: ainda é socialista? É um social-democrata ou passou a ser um social-liberal? Hollande responde com a seguinte frase: “Não se trata de inflectir o sentido da marcha mas de acelerar a marcha.” É caso para dizer que um socialista acelerado ainda arrisca a transformar-se num liberal.

A economia francesa está assente em dois pilares: a despesa do Estado representa 57% do PIB, uma das mais altas do mundo, e a carga fiscal 45% do PIB, a par da Bélgica, a mais elevada do euro. O problema de Hollande é que com a economia estagnada – uma realidade que não conseguiu inverter – não há carga fiscal ou ideologia que aguente tamanha despesa.
 
 
 
 

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